segunda-feira, 2 de abril de 2007

O valor das idéias...

Situação: intenção de encerrar antiga conta bancária de salários. Local: Rio de Janeiro. Protagonistas da ação: este signatário no papel do condenado, e o banco Santander no papel de algoz.

Horário de acesso às dependências do patíbulo recém-reformado sob o patrocínio da prefeitura do Rio de Janeiro, a qual "internou" 165 mil pobres servidores na masmorra virtual da conta-salário: 10:50 h.

Passo 1: Sou cortesmente atendido por um garoto engravatado a bordo de um plástico "como posso ajudá-lo senhor?". Dizendo-lhe da minha intenção, fui postado de pé ao lado de um aparelho com a frase: - isto se faz por telefone, senhor.

Passo 2: Cortesmente atendido pela Ana Paula (já repararam quantas anapaulas fazem tele-atendimento hoje em dia?), sigo interrogado sobre números de documentos, "de onde sou?", se servidor público estadual de São Paulo, "da Marinha" ou da cidade do Rio de Janeiro, e das razões da minha intenção - aparentemente surpreendente pelo tom estupefato da mocinha. Afirmando a minha intenção, sou atingido pelo primeiro petardo: o banco me dá - você leu corretamente - o banco me dá 100 reais para que eu permaneça correntista, "para o senhor fazer o que quiser - não é empréstimo, o senhor não vai ter que pagar nunca". Reafirmo a minha intenção - para mais espanto e silêncio do outro lado da linha. Vem a seguinte pergunta: o que o banco pode fazer pelo senhor para que não nos deixe? Minha singela resposta: - nada. Silêncio sepulcral do outro lado. E depois: - nada? Então está bem, senhor. O senhor tem algum saldo na sua conta? Respondo que sim. Ah! - percebo o alívio da Ana Paula: - então não posso encerrar sua conta agora; o senhor tem que sacar o seu saldo para depois fazer o encerramento. Pano rápido - digo - desligo rápido e dirijo-me à fila do caixa.

Passo 2: No caixa, ouço outro simpático e jovial "o que posso fazer pelo senhor, senhor?". Digo eu: - gostaria de fazer uma retirada; um cheque avulso para encerrar a minha conta. Depois de degladiar-me por quinze minutos com o caixa (que deixara o sorriso, passando a exibir uma feição consternada, quase de pêsames) pois o mesmo queria que eu soubesse o meu saldo (quando resolvi encerrar a conta, no início de fevereiro, tinha 120 reais - e percebo então, que no último dia de março, restam-me apenas míseros 66), entregasse o cartão magnético e falasse com um gerente sobre o assunto, porque, afinal, poderia haver algum outro "produto" do banco vinculado à conta-corrente; um seguro, uma capitalização, um investimento, um empréstimo... Consigo finalmente fazer o saque.

Passo 3: De volta ao "orelhão", Ana Paula (outra delas) atende, faz todo o rol de perguntas novamente (número do CIC, do RG, se conta-salário, também o número do hollerith etc. etc. etc.) e dispara o segundo petardo com que sou alvejado (talvez agora de morte e, portanto, talvez permanecendo "no banco"): - nós vamos estar disponibilizando (sic) para o senhor um desconto de 50% em todas as tarifas. Assim o senhor vai estar adquirindo (sic e mais sic) um valor de mais de 60 reais no semestre! Diante da minha (absolutamente louca, para ela) negativa, vem um longo silêncio e a bem decorada questão: o que o banco pode fazer pelo senhor para que não nos deixe?. Respondo contrito: - nada. Ela, então, manda outra pergunta do "script", e nova: - o senhor tem alguma operação ligada à conta; cheque especial, cartão de crédito, débito automático? Digo que não, mas ela percebe que havia ("do verbo não há mais") um antigo financiamento (quitado em dezembro) e que, "por causa disso" eu deveria ir à gerência e... Diante de minha impaciência e do relato de tudo o que já fiz: ligar para sua colega Ana Paula, ser orientado a sacar e ter sacado, vem, finalmente, a minha "liberdade", mas na "condicional": - vou fazer um "requerimento de encaminhamento de encerramento de conta", mas o senhor terá que estar verificando (sic, mil vezes sic) depois com a gerência se a conta foi mesmo fechada. E, finalmente (aleluia!), recebo meu salvo-conduto, o redentor "número de identificação da solicitação de encerramento de conta-corrente" - que anoto rápida e sofregamente - o qual permite-me ir embora daquele ofuscante e muito iluminado ambiente.

Horário: 11:30 h, perfazendo, portanto, quarenta minutos "de detenção".

(I)moral da história: deveria ser crime inafiançavel um banco oferecer, de graça, o equivalente a dez dias do salário-mínimo líquido de um brasilero pai-de-família. Eu, felizmente, pude recusar o "presente" e viver para contar tal espanhola saga.

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