sábado, 25 de julho de 2009

Uma outra verdade inconveniente

O presidente Lula disse a coisa certa sobre o mau uso dos incentivos fiscais à cultura, como conta Jorge Bastos Moreno em sua coluna Nhenhenhém de hoje, em O Globo:

Nome ao boi

No lançamento do Vale-Cultura, em São Paulo, ao falar da Lei Rouanet (1991), Lula constrangeu convidados, mas botou o dedo na ferida.

Referindo-se nominalmente às belas enciclopédias do Centro Cultural Itaú, disse o presidente:

- Aquilo não tem um centavo do lucro do Itaú. É tudo dedução do imposto de renda do povo brasileiro.

Salada cultural presidencial

O que talvez nem Lula saiba, é que não só as enciclopédias como também a sede do instituto (uma torre high tech fincada na avenida Paulista) deve-se a incentivos fiscais, no caso do prédio, graças à finada Lei Sarney (1985), cassada por Collor em 1990.

sábado, 11 de julho de 2009

Produção cultural é aquilo que Riva Fineberg ensinou-nos a todos...

Li a nota de falecimento, no último dia 8, e lembrei-me dos espetáculos - a música de concerto que Riva Fineberg fez acontecer por décadas no auditório do Instituto Brasileiro de Administração Municipal sob a marca "Música no IBAM".

Com todas as dificuldades que se possa imaginar. Com todos os "acho que não vai dar" ouvidos. Com todas as faltas de verbas. Com todos os (des)incentivos. Com todas as chuvaradas e enchentes cariocas. Apesar de todos os que duvidavam, sempre, prosseguiu Riva, Produtora cultural (assim, com "p " maiúsculo), correndo atrás do seu sonho.

Li na nota que a produtora admirara-se, certa vez, com aquele belo auditório no prédio da rua Humaitá, no Rio de Janeiro, e se perguntara:

- Por que não ter aqui concertos de boa música, gratuitos?

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez" (ditado popular)

Riva ensinou a muitos o que é, de fato, "formação de plateias", esse conceito que aparece em 9 de cada 10 propostas de patrocínio, muitas vezes só para constar.

Aula maior ainda a da constância, da perseverança, da manutenção de um programa. Devíamos desenvolver um case sobre Riva; sua tenacidade, sua capacidade de articulação e de viabilização da arte, a despeito das nossas malfadadas leis de incentivo à cultura, que insistem em desviar-se para projetos pessoais, do Instituto FHC à Fundação José Sarney.

Fica aqui o registro e a homenagem a esta que fez história e que para mim é exemplo de mecenas e de dedicação à cultura.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Entrevista para o Portal da ABRAPCORP

O portal da ABRAPCORP (Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas) entrevista, este mês, Marcondes Neto.

1. Qual seu conceito de Comunicação Organizacional?

É um campo de fazer e de saber que vem expandindo-se nas últimas duas décadas no Brasil a partir do desenvolvimento econômico privado, de uma certa modernização do Estado e da organização crescente da sociedade civil - instâncias que não podem prescindir de uma face e de uma voz, tanto "dentro de casa" como junto a seus públicos externos.

2. Existiria, em sua opinião, uma concepção brasileira sobre Comunicação Organizacional? Se sim, quais seriam algumas características específicas? Se não, o que faltaria para isto?

A concepção "Comunicação Organizacional" já é bastante brasileira (nos Estados Unidos, a comunicação integrada ao marketing - integrated marketing communications, ocupa o lugar da C. O.), mas não é nacional. No Rio de Janeiro, por exemplo, o conceito de comunicação empresarial sobressai. Em Juiz de Fora, Minas Gerais, a Universidade Federal também adotou esta denominação para seu curso de pós-graduação. Falta mais tempo de maturação (e artigos, pesquisas e livros) para que o conceito "saia" da academia com mais força e ganhe o mercado.

3. Quais os indicadores mais relevantes para se considerar a comunicação como efetiva e excelente numa organização?

São quatro, em minha opinião: conhecimento - e uso - das ferramentas de comunicação pelo pessoal interno; bom clima organizacional; imagem percebida (aquilatada por pesquisa) próxima à identidade organizacional e reconhecimento (levantado também por pesquisa) da organização - pelo mercado - como cidadã.

4. A comunicação vem sendo vista como uma área híbrida. Caso concorde, quais seriam outros conhecimentos que deveriam ser buscados por pesquisadores e profissionais? Se discorda, por quê?

Concordo com a afirmação. A aproximação da Comunicação com a Administração cada vez mais se evidencia. Se no início essa aproximação passava pelo setor de Recursos Humanos, agora ela está definitivamente agregada ao Marketing. Note-se que o vértice mais avançado desta interseção, pelo lado da Comunicação, dá-se pelas Relações Públicas, tanto no caso do reconhecimento da importância dos públicos internos (interface com RH) quanto no caso dos negócios e dos públicos externos (via Marketing).

5. Que faceta(s) da comunicação organizacional contemporânea você consideraria como campo(s) promissor(es) de estudo?

Estudos sobre reputação, estudos sobre transparência (aspecto fundamental da governança corporativa), mediação de conflitos, issue management, ONGs, filantropia e assessoramento a pessoas físicas.

6. Qual foi sua última publicação (livro, capítulo, artigo, resumo de palestra, resenha - impressa ou digital, independente de data) ? Cite, por favor, título, local e temática central.

Livro: "Relações Públicas e Marketing: convergências entre Comunicação e Administração", publicado pela Conceito Editorial (www.conceitoeditorial.com.br, RJ) e lançado pela Rede Saraiva em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Temática central: a aproximação cada vez maior entre a Comunicação e a Administração.

7. Que livro você está lendo agora? Qual sua motivação na leitura?

Estou lendo vários livros ao mesmo tempo: "Click", de Bill Tancer e "O culto do amador ", de Andrew Keen - no caso desses dois a motivação é a crescente presença da internet na vida das pessoas e das organizações. Não saem da minha cabeceira os clássicos - e a motivação é porque são clássicos! - "Feitas para durar" de Collins & Porras e "Marketing Básico", de Manoel Maria de Vasconcellos.

8. Sugira canais digitais de conhecimento interessante para comunicação organizacional e relações públicas (portal, blog, lista de discussão, newsletter eletrônica, comunidade em redes sociais, micro-blogging, entre outros).

Website: www.captacao.org

Blog: http://www.oxisdaquestao.com.br (blog do Chaparro)

Twitter: CNN.com/US

Newsletter eletrônica: a "HSM Online"

domingo, 5 de julho de 2009

Quando o diploma é o fim...

Justificam-se os meios.

E a opção da diplomada Miriam Leitão foi trazer para o seu Espaço Aberto (há controvérsia; não sobre o espaço, aliás enorme, mas quanto à sua abertura) desta semana, na Globonews, duas figuras no mínimo suspeitas para discutir o que acontecerá após o fim da exigência do diploma para exercício do jornalismo: um diretor de O Estado de S. Paulo, empresa co-autora, junto à Globo e outros gigantes da mídia, da ação que cassou o diploma, e um diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing, centro universitário privado que sequer oferece em seu curso de Comunicação Social a habilitação em Jornalismo.

É primário

E depois, bacharel, não se queixe de que há má vontade para com as Organizações... com uma prática dessas fica difícil, impossível mesmo, a gente reviver aquela velha (já quase falecida) prática de "ouvir a outra parte". Que parte?

O primeiro adiantou que, já para 2010, o programa de trainnees do Estadão abrirá vagas a pessoas de outras áreas acadêmicas. O segundo aposta no crescimento dos cursos de especialização - principal fonte de faturamento da empresa que dirige... e ainda querem manter o élan dos jovens estudantes de Jornalismo, país afora?

Pelo menos o pessoal do impresso (seja em papel, seja em pixels) é mais realista

Outro dia, em seminário da ABERJE (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), no Rio, Aydano André Motta, de O Globo, foi certeiro quando disse que "no Rio e em São Paulo nada muda em relação às práticas de contratação dos jornais". (Eu duvido, mas quién soy yo?). O problema, segundo ele, é "de Niterói p'ra cima", Brasilzão no qual os donos da mídia terão pudor nenhum de empregar só quem lhes agrade os amigos-atores econômicos e políticos que rastejam atrás de uma manchete, de uma matéria, de uma notinha ou denúncia contra adversários etc. etc. etc.