sexta-feira, 17 de maio de 2013

Aura da Alemanha no Brasil, 70 anos depois.

>
O que os constituintes promulgaram em 1988 sobre Comunicação e sobre Cultura é letra morta. É preciso, em todas as instâncias em que podemos nos pronunciar - salas de aulas, ONGs, a web - fazer a denúncia deste desastre nacional - o emburrecimento programado das pessoas, individualmente, e das comunidades. Não há paralelo em todo o planeta. O que de monstruoso Adorno, Benjamin e Horkheimer temiam, analisando o que o rádio e o cinema fizeram na Alemanha sob o Terceiro Reich, está aqui, agora, no Brasil, sob as Organizações Globo. No Rio de Janeiro, então, não há a mais pálida fresta para outros ares. A rua, a chuva e a fazenda respiram os gases nobres - e pobres - produzidos em série com requinte pós-industrial. Vale a pena ler um "extrato" daqueles três autores, mais Eco de duas décadas mais tarde, para entender a atualidade do aviso de Frankfurt, expedido em 1944: http://www.marketing-e-cultura.com.br/website/teoria/teo001-b.php?cod_artigo=26.

De hoje, postado no Facebook por Nelson Moreira, que compartilho:

A TV e sua opinião, por Silvio Caccia Bava

Em 2011, 59,4 milhões dos domicílios brasileiros tinham televisão, o que equivale a 96,9% do total. De longe, a televisão é o meio de comunicação mais difundido e utilizado.

Em fevereiro passado, segundo o Ibope, as maiores audiências da TV foram as novelas, os reality shows (BBB Brasil e Fazenda de Verão), o Jornal Nacional, a segunda edição do noticiário e os programas de auditório. O futebol das quartas-feiras fica apenas em nono lugar.

A liderança de audiência da Globo é impressionante: são dela os 47 programas mais vistos da TV em 2012. E, se considerarmos o horário nobre, suas três principais novelas estão entre as dez atrações de maior audiência, tendo à frente Avenida Brasil, superando inclusive o BBB Brasil, o reality show mais popular. Ainda segundo o Ibope, o Jornal Nacional é o vice-líder absoluto da emissora. Essa situação configura, virtualmente, um monopólio privado da informação.

A televisão é o meio de comunicação pelo qual se informa o maior número de pessoas. E muitos só se informam pela televisão. Não leem jornais, revistas. Sua opinião, portanto, é formada com base nessas informações. Sempre por trás de uma mensagem há alguém que a envia, e devemos nos perguntar por que esse alguém nos envia essa mensagem e por que neste momento. A sincronia, por exemplo, entre a ampla divulgação do julgamento do mensalão com as últimas eleições é uma dessas questões.

A televisão brasileira, embora seja uma concessão pública, está nas mãos de poucos grupos que defendem interesses privados − seus interesses são os interesses do mercado, são os interesses das elites, alinhados desde os anos 1990, pelo menos, com a doutrina neoliberal. Promovem os valores do individualismo, da competição, do sucesso individual. Se você não consegue esse sucesso, a culpa é sua, não tem nada a ver com a estrutura da sociedade e com o fato de que a economia só favorece os grandes.

A televisão reduz os cidadãos à dimensão de meros consumidores. Não há análises de contexto, os fatos não se inscrevem em lógicas mais amplas. Quando há programas de debates, estes são em altas horas, não são para as massas. E mesmo assim os debatedores, em sua ampla maioria, se alinham com os interesses das emissoras. Seus noticiários destacam o crime e a violência, disseminando o medo na população e fazendo que esta aceite um mundo de arbitrariedades no qual, por exemplo, a polícia executa sumariamente “suspeitos”, consagrando a pena de morte na prática, sem qualquer julgamento, o que identifica o Estado não só como cúmplice dos crimes, quando não como os próprios agentes da violação de direitos, mas também como legitimador desse discurso televisivo. Se esses comportamentos se apresentam como a única solução, se temos visões parciais, distorcidas, dos fatos, provavelmente teremos opiniões equivocadas sobre eles.

Ao dar destaque à violência urbana e à criminalidade, a TV induz o público a demandar mais segurança, mesmo à custa de políticas que se formulam em prejuízo da liberdade e do respeito aos cidadãos, como a ocupação militar de territórios da cidade.

Os meios de comunicação vivem uma relação promíscua com o poder político e o poder econômico. Basta ver quem detém as concessões, por exemplo, das estações retransmissoras das principais redes televisivas, distribuídas, em grande parte, para as oligarquias e lideranças políticas regionais. Seu objetivo não é mais servir à sociedade, mas se servir dela para alavancar interesses privados, para alavancar os negócios, para reproduzir as elites no poder.

Há uma combinação de espetáculos – as novelas, os reality shows, os programas de auditório, o futebol – que desvia a atenção do público dos problemas importantes, tornando-o distante dos problemas sociais, com uma seleção e uma interpretação do que são as notícias que merecem sua atenção.

A cultura imposta pela televisão tem tal influência que nos encontramos, muitas vezes, pensando na mesma linha. E não há como responsabilizar somente a TV por essa situação − a doutrina neoliberal, na verdade, se impregnou por toda parte. Nós a vemos nas próprias políticas de Estado. Seus valores se contrapõem à democracia, ao respeito à diferença, ao reconhecimento de uma sociedade plural. Eles promovem o sectarismo e uma polarização entre o bem e o mal, em que tudo que não se ajusta à sua doutrina é considerado condenável e é criminalizado.

Em vários países da América Latina esse império das comunicações está sendo questionado por governos democráticos, como na Argentina, no Equador e na Venezuela, e essa mesma mídia conservadora os desqualifica, os criminaliza, buscando garantir a continuidade de uma interpretação da história e dos acontecimentos cotidianos que só serve aos seus interesses.

A TV é um bem público, assim como a informação. Ela deve servir aos interesses da sociedade, não aos interesses do mercado; ela não pode estar a serviço de uma doutrina que, para maximizar o lucro, viola sistematicamente os direitos dos cidadãos. E para sustentar a defesa do interesse público, da democracia, é preciso que cada um de nós se interrogue se a programação que temos hoje na TV brasileira é a que melhor atende aos nossos interesses.

Silvio Caccia Bava é diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique.
>

quinta-feira, 16 de maio de 2013

"O impressionante é que um veículo da nossa área não atenda a um direito criado pelo próprio segmento que é o direito de resposta. Assim fica difícil".


>
Desculpe-me discordar, prezada colega de Clube de Comunicação, Cris Dissat. Mas agradeço porque, iniciando minha argumentação, acabei escrevendo uma tira longa que julgo oportuna e devida. Uma oportunidade de expor fatos e... a minha versão deles.

O direito de resposta não foi "criado pelo segmento". Nossos queridos patrões nunca tiveram, não têm e nunca terão tamanha responsabilidade civil "por antecipação". O - finado - direito de resposta foi mais uma daquelas criações "incompreensíveis" da ditadura, afinal ditadores não pedem direito de resposta, simplesmente fecham o jornal...

Mas um advogado de jagunços instalado no Supremo, "atendendo a pedidos" de... Miro Teixeira (e mais a matilha de patrões) acabou com a Lei de Imprensa, levando junto o tal direito, e colocando nada no lugar.

Hoje todos os políticos donos de jornais, revistas, rádios, TVs e portais (são muitos...) podem abusar da boa fé do público "detonando" quem quiserem (ou quem seus amigos quiserem) a título de "notícia". E vá reclamar com o Papa...

A ABI é uma das instâncias - talvez a mais legítima delas, uma vez que os jornalistas não têm um Conselho Profissional (outro absurdo imposto por patrões à "opinião pública") - com legitimidade para exigir uma lei que reponha o direito de resposta na doutrina brasileira em Comunicação.

Os jornalistas de bem têm que retomar a ABI. Não se pode "comprar" a tese de que a mesma perdeu importância. Ela perdeu - momentaneamente - a legitimidade (consequentemente a credibilidade) por incúria, incompetência e má fé dos administradores da hora (eleitos, mas depois revelados fracassos político-administrativos) e pode voltar a ser digna representante de muito mais elevados interesses da classe dos jornalistas e da cidadania.


Amigos do Clube, tenho manifestado-me sobre este tema por absoluto amor ao Jornalismo - o jornalismo sonhado e consignado nos estatutos da ABI. Descobriu-se, aqui, este errepê, nos últimos três anos (2010-2012), um defensor ferrenho de uma imprensa forte. Isto porque, sem imprensa forte, as relações públicas inexistem como deveriam ser e passam a ser nefasta e mera condição de tráfico de influência e "capacidade de controlar crises". E Jornalismo se faz com jornalista! Não com os amigos, não com estagiários de nossos - péssimos cursos, não com a ajuda do Google News.

Guardadas as muito devidas proporções, no período acima conseguimos - 14 colegas - "virar do avesso" uma instituição, o Conrerp do Rio - apodrecida pelo desmando, pela miopia e pela incúria de pelo menos uma década de incompetência político-administrativa de instituição de classe. E não precisamos "sacrificarmo-nos" e ficar mais um mandato... Conseguimos motivar outros colegas, mais jovens, a continuar segurando o bastão de uma... causa, o que, infelizmente, só uma minoria assim enxerga na representação de uma categoria.

E o mal continua por aí. "Nosso" sindicato - dos errepês - acaba de ter 20 "diretores" eleitos por... 20 eleitores. E lá estamos nós, cavaleiros do apocalipse, pensando em como fazer para acabar com mais esta pantomima... que se junta a outra, da ABRP - uma instituição de 1954 atualmente possuída por alguns, na obscuridade.

A luta nunca termina. Este é o preço de se constituir genuínas Instituições (assim mesmo, com "i" maiúsculo) - tema que, por força do ofício, estudo em profundidade, e que se demonstra o verdadeiro desafio de se querer colocar uma nação no chamado "primeiro mundo". Muito mais do que consumir mais iogurte, mais TV por assinatura e mais petróleo.

Saudações "iradas" e apaixonadas.
>


sábado, 11 de maio de 2013

UM NOVO PONTO "G".

>
ALERTA AOS QUE QUEREM UMA IMPRENSA MAIS JORNALÍSTICA E MENOS JORNALISMO DE ASSESSORIA!

Aprovado o projeto de Resolução que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Jornalismo, bacharelado, (veja 'post' e 'link' abaixo), faltando, apenas, a sanção ministerial.

A Comissão que tratou do mesmo tema para Relações Públicas, junto ao MEC, deveria posicionar-se CONTRÁRIA à seguinte redação do Artigo 4o., Item "G" : INCLUIR, NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL, AS ROTINAS DE TRABALHO DO 'JORNALISTA EM ASSESSORIA' A INSTITUIÇÕES DE TODOS OS TIPOS.

Uma das mazelas - senão a pior - do jornalismo brasileiro (e das relações públicas brasileiras, por consequência) é o imoral exercício das duas profissões pelo mesmo indivíduo, ao mesmo tempo.

O conflito de interesses dispensa mais comentários, pois é conhecido de todos. O mais tosco dos cidadãos compreende que um jornalista a serviço de uma empresa, promove-a nas páginas, no ar, e no ciberespaço da imprensa, desservindo a isenção, a democracia, aos cidadãos, à própria imprensa como instituição e à cidadania corporativa, sempre colocada sob suspeição a partir do exercício de tráfico de influência.

Não existe - há muito tempo (como prova a modificação da denominação da Aberje) - "jornalismo empresarial".

JORNALISTA É QUEM TRABALHA EM VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO.
>

segunda-feira, 6 de maio de 2013

QUE EIKE BATISTA, QUE NADA!


O filantropo do Rio é Ruy Brandão Caldas, veterinário de 85 anos, que resolveu abrir as porteiras, à visitação pública, de sua fazenda União (adquirida em 1969 e até hoje sem qualquer exploração, só preservação, às suas custas) de 5,3 milhões de metros quadrados na bela região de Silva Jardim, estado do Rio de janeiro.

Sonha que uma Universidade "adote" a área - alô UERJ! E disse, para O Globo, (de) ontem: "Será que eu tinha uma missão a cumprir? Acho que sim". Como bem lembrou Paulo Roberto Araújo, o jornalista que cobriu a primeira caminhada após a abertura (da ONG Anda Brasil): "Ser grande é abraçar uma grande causa" - William Shakespeare. ESTE, sim, faz diferença!
>

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Será que dá para demitir o prefeito do Rio de Janeiro?



Que bom seria... Não estaríamos sob o efeito de factoides – invenção de seu paipai César.

O último factoide, besteira das besteiras, foi querer economizar 8 milhões de reais – uma merreca! – às custas da sempre combalida Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB).

OSB = Geni.

Todo mundo joga bosta na Geni. Agora o prefeito quer que ela se funda... uma das maiores asneiras já ditas. E não é que o secretário, lacaio, da Cultura acha que esse atentado “faz todo o sentido”?

Valha-nos Deus, quanta boçalidade!

César pai, aquele que concebeu o atual prefeito, já “comprara” a OSB no passado. Afirmou – para enganar a todos (menos a mim, que esperneei em minhas turmas de Gestão e Marketing na Cultura, na UERJ) – que o Rio de Janeiro “adotara” a OSB.

Bancou, de fato, anos de apoio, mas “de quebra” impetrou a Cidade da Música... ou das Artes... ou de nada: todos apelidos da mesma coisa na Barra da Tijuca. E fez o inominável – também “gritei” muito à época – além de dizer que a obra seria a “casa” da orquestra, mudou seu nome... É!!! Para Orquestra Sinfônica Brasileira da Cidade do Rio de Janeiro... e não é que aceitou-se isto?

Depois, finalmente a máscara caiu. A OSB “poderia participar da disputa pela administração do espaço” – o que sequer fez por absoluta incapacidade financeira (a monstruosidade-de-concreto-no-meio-do-caminho custa 2 milhões por mês mesmo sem funcionar). Nem a OSB nem ninguém quis. Hoje a prefeitura tem que arcar com esse gasto... administrativo – mesmo que não se ouça uma nota sequer.

Caiu a casa da orquestra. Caiu o logotipo da prefeitura. Aliás, como já cairá – a pedido da família – o letreiro daquela “Cidade da Música... que seria ... Roberto Marinho”!

Mentiras... Malandragem... Milhões.

Nosso alcaide atual não nega a raça e faz melhor! Na entrevista publicada hoje, 01/05/2013, n’O Globo (como aliás, escreveu Luiz Paulo Horta, na mesma página), o prefeito “surtou”. Só disse absurdos. A ver:

– o Rio de Janeiro não “precisa de duas orquestras”;

– o modelo de gestão da OSB “não é maravilhoso”;

– que se fundem OSB e Opes (Orquestra Petrobras Sinfônica) num só conjunto sinfônico;

– as orquestram “se integram” e terão “um orçamento volumoso para ter a projeção que o Rio merece”;

– o dinheiro público tem que ser investido em coisas que de fato deem projeção à cidade.

A cidade do Rio de Janeiro já vira sucumbir, há um par de anos, por inanição, a sua Orquestra Filarmônica, conjunto sinfônico que o maestro Florentino Dias tocou até o fim de suas energias...

Porém, melhor que o prefeito, é sua cria – o lacaio da Cultura –, que disse: “O Rio, que pretende ter um papel de protagonista no Brasil e no mundo, precisa ter pelo menos uma grande orquestra internacional...”.

Quando baboseira!
>