quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quinhentos e quarenta e cinco.

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Infelizmente, a politicagem tomou - de vez - conta da educação

E a vaidade disputa a primazia das preocupações docentes com a hipocrisia e a arrogância. Noutro dia, participei de uma reunião de quatro horas que poderia ter seus assuntos resolvidos em quarenta minutos. O resto do tempo? Gasto tanto em rapapés quanto em injúrias mútuas pelos ilustres "pares".

Rui Barbosa, há mais de cem anos, já tascava o seu protesto "De tanto ver triunfar as nulidades...", o qual tornou-se, infelizmente, o meu mantra, tal a quantidade de nulidades com que me deparo quotidianamente.

Tiririca's rising

Deputado federal por São Paulo passa a integrar a Comissão de Educação e Cultura da Câmara.

Muitas causas... muitos culpados, mas só uma vítima - este País, fadado a festejar o emergir das "novas" classes "médias"; C, D, E, F, G, H - que mais sabem de consumo que de cidadania, pois que educadas pelo pior extrato de professores "primários" de que se tem notícia. Ouvi, certa vez, do diretor de uma faculdade de Educação: - o nível de nossos alunos é baixo, de empregados domésticos.

É. Da altura de 545 reais ao mês.
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Tragédia brasileira em dez atos.

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Triste Decálogo ou "Ilegal... e daí?"

01) Os patrões conseguem do "Proer da Mídia" o mandato (e a grana) para manter o status quo do tempo da "integração nacional";

02) Os patrões mantêm e intensificam a propriedade cruzada e a consolidação das redações (onde o jornalista trabalha para todos os veículos "da casa" pelo mesmo salário);

03) Os patrões obtêm a derrubada do diploma para o exercício do jornalismo;

04) Os patrões boicotam qualquer iniciativa de supervisão da cidadania, da sociedade civil organizada ou do Estado Democrático de Direito à comunicação de massa;

05) Os patrões conseguem fundir os negócios da comunicação de massa (coisa de uma casa de bilhão) com telecomunicações (coisa que está em duas casas mas que vai chegar a três já-já);

06) Os patrões exigem o cumprimento da Constituição Federal (que descumprem) para tentar frear as empresas estrangeiras de internet (ramo em que também atuam);

07) Os patrões recusam-se (contra a lei) a produzir mais internamente (no país) - inclusive jornalismo - e insistem nos enlatados importados cada vez mais baratos (em custo e nível cultural);

08) Os patrões recusam -se (também contra a lei) a regionalizar a produção de TV;

09) Os patrões abertamente resolvem entregar o exercício do jornalismo a qualquer um, sem o pagamento de salários (o mesmo que fazem com os "atores" dos reality shows);

10) Os patrões estabelecem os preços da veiculação comercial (propaganda), em oligopólio, que, no Brasil, é a mais cara do mundo em dólar [ao lado da telefonia celular, da banda larga (larga?)] e da TV por assinatura.

Com tais "tábuas legais", onde vamos parar?
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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sobre tubarões e outros peixes...

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Piranhas, talvez...

Já havia decidido manifestar a minha indignação acerca da matéria públicada na penúltima edição da revista EXAME, na qual o presidente da AMIL é personagem de capa. Perfil acabado de um case de sucesso, as práticas da empresa - e de todo o setor - revelam aquilo que há de pior no capitalismo. Do líder: "prefiro estar no cardume de tubarões ao de sardinhas...".

Aí, então, veio o - ótimo - texto de Ligia Bahia, publicado hoje na seção OPINIÃO do jornal O GLOBO, tratando da seguinte história de pescador: planos de saúde VERSUS seguro saúde e outros babados. E desvelando a malfadada "comunhão de bens" entre os planos de saúde e o SUS ("o SUS se converteu em fonte de subsídios aos planos privados"). Isso mesmo, o nosso Sistema Único de Saúde. Talvez o maior e mais sofisticado dos sistemas públicos brasileiros. Mais do que o de educação, maior que o de seguridade e anos-luz à frente do de defesa pública. E inspiração do recém-sancionado (em dezembro de 2011) Plano Nacional de Cultura (com seu estrutural Sistema Nacional de Cultura).

Cá e lá

Obama fez parte da lição de casa que os Clinton começaram, mas continua travando, no Congresso, a batalha pela universalização dos serviços de saúde - algo hercúleo, admita-se - que tramita nos EUA desde o pós-segunda guerra.

Pedagogia de uma crise

Aí, para completar, fui à locadora mais próxima e peguei "Sicko", o filme que Michael Moore fez, em 2007, sobre o sistema de saúde estadunidense.

Logo na introdução são mostrados casos de infortúnio dos "50 milhões de americanos que não têm seguro de saúde", mas é informado que o filme "não é" sobre esses personagens, mas, sim, "sobre os 250 milhões" que detêm essa invenção única da indústria financeira.

Sim, indústria financeira

Quando trabalhei em consultoria, testemunhei a transição das empresas do - antigo - ramo de saúde (health care) para o de seguros (financial services). Anos 1980. Nos Estados Unidos um pouco antes - 1971, com o insuperável Richard Nixon (que no mesmo ano abandonaria o padrão-ouro como lastro econômico do dólar... o resto é história de crises que se repetem em intervalos cada vez menores até hoje).

Aí o começo do fim da relação médico-paciente, do ingrediente "solidariedade" que presidia a abertura de uma clínica num bairro, do juramento de Hipócrates. Passamos a ser insumo de uma indústria cujo fim não é a saúde, mas o lucro. Meros números somos, e "quanto menos cuidados, melhor", como afirma um dos muitos tubarões entrevistados pelo cineasta.

Benchmarking para ninguém botar defeito

O depoimento de uma funcionária de call center dessa indústria ilustra, sem retoques, o mau atendimento que recebemos. Segundo ela "por isso sou grossa com os segurados, não quero me envolver com eles, com os problemas deles. Não aguento a pressão de ver pessoas alegres porque estão 'comprando' uma solução para seus problemas quando sei, já no preenchimento da proposta, que em duas semanas suas coberturas serão negadas". É a infâmia das condições de saúde pré-existentes. Here, there... and everywhere?

Então vemos os exemplos da Inglaterra, da França e do Canadá, países em que a cidadania conquistou patamares inimagináveis para nós, brasileiros. E um ex-congressista britânico dá a fórmula da vida de gado (remember Zé Ramalho): "primeiro você faz as pessoas quebrarem, depois as humilha e, por fim, as faz terem medo".
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