sexta-feira, 13 de julho de 2007

Olímpica mesmo é a pan-hipocrisia da mídia brasileira

Assim é se à Globo parece

Não bastasse a humilhação pela qual passou o presidente da República do Brasil, país-sede, na abertura dos XV jogos pan-americanos, quando, preparando-se para discursar após o ruído da galera (vaias e aplausos, dos quais a mídia só ouviu - e repercutiu - as primeiras), foi rudemente interrompido pelo deus (do Olimpo, que se acha) Nuzman, abrindo oficialmente os jogos; vem a Globo, through Bonner & cia., e inventa - apesar da perplexidade "ao vivo" de ninguém menos que Galvão (Brasil!!!) Bueno - que "Lula quis evitar o constrangimento e desistiu de falar ao público".

Mais tarde, no jornal das 10 (Globonews) a invenção foi repetida ad nauseam.

Um país, uma mídia, 190 milhões em ação. Prá frente Brasil - uma só opinião

Decepção! Pavor! Descrédito! Pasmo ao ver nos sites dos mais diversos jornais online a mesma - ou parecida - versão: o presidente Lula desistira de falar por que fora vaiado três, quatro, cinco vezes (dependendo da vontade dos diferentes veículos). Parece que todos os jornalistas assistiram à cerimônia pela televisão - e, pior, pela Globo.

Na hora de bancar um evento que custou doze vezes mais que o orçado, as autoridades (e lá estavam, ao lado de Lula, o governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia) foram todas convocadas a abrir os cofres (que abriram, vide a presepada que viaturas de todas as cores vêm protagonizando já há dias na cidade maravilhosa). Quando chega o momento - fugaz - de terem, as mesmas autoridades, o "gostinho dos mecenas" - no jargão do marketing de patrocínio - a mídia, justo quem, alia-se ao povo "sofrido" e tome um maraca inteiro de vaia neles! É para aprender, senhores políticos, governantes e demagogos em geral. O sistema não perdoa. Beneficia-se de benesses, anunciantes milionários (o pan é 1/3 patrocinado pelo Governo Federal através das quotas da Caixa Econômica Federal e da Petrobras entre seis assinaturas), mas faz jogo sujo escudado numa isenção jornalística que não existe mais nem nos bancos das faculdades de comunicação.

GLOBO MARCAS

E a poderosa ABERT (adivinhe quem controla a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão?) ainda se queixa da classificação indicativa da programação que o Ministério da Justiça quase que se desculpa pelo incômodo de "sugerir". Que temor aflige a honorável ONG patronal? O de não poder mais fazer a lavagem cerebral diária que executa com precisão desde o tempo dos Irmãos Coragem?

Por que o Gentle Giant não decolou? (internauta pergunta no orkut)

Respondo:

Para mim o Gentle Giant não só decolou, sim, como ainda não pousou. Afinal, uma banda inglesa, compondo música rebuscada, inspirada em um estilo medieval, de letras-mensagens lúcidas (e não só refrões yeah-yeah-yeah - nada contra) ou "viagens" tipo Yes ou Pink Floyd (nadíssima contra também), mas totalmente out of the pops, que gravou entre 1971 e 1980 e que é tema de chat e site (www.blazemonger.com/GG) na internet e no orkut em 2007 só pode ser tudo de ótimo - do melhor que a tão criticada indústria fonográfica já produziu.

Os caras não "decolaram" para o patamar de celebrities (graças a Deus para eles e para nós) simplesmente porque não quiseram. Veja a ousadia do grupo (e dos produtores deles - e até da major company deles, a BMI), na mensagem (em versão brasileira de Nelson Seckler) de capa do segundo disco, o Acquaring The Taste: "Acquaring the taste é a segunda fase do prazer sensorial. Se você se empapuçou com o nosso primeiro disco, então saboreie os mais finos gostos (assim esperamos) deste segundo prato. A nossa meta é expandir as fronteiras da música popular contemporânea, mesmo correndo o risco de nos tornarmos muito impopulares. Gravamos cada composição com uma só idéia: que ela fosse uma aventura única e fascinante. Para conseguir isso, tivemos que usar até a última gota dos conhecimentos musicais e técnicos do grupo e de cada um. Desde o início, abandonamos todas as fórmulas comerciais da indústria da música. Em lugar disso, escolhemos dar a você algo muito mais substancial, que saciasse o seu paladar. Tudo o que você precisa fazer agora é relaxar e perceber o sabor" - Grã-Bretanha, 1971.

É claro que o Gentle Giant era uma banda formada por músicos virtuosos que deu-se muito bem em estúdio. Para o bom ouvinte, o que o Gentle Giant fazia acontecer com os instrumentos e equipamentos de então dá o que pensar até hoje. Não eram os atletas-narcisistas típicos de palco, mas se recordarmos bem, The Beatles também constituíram uma ótima banda de estúdio, cujos discos são em nada comparáveis àquilo que fizeram (ou tentaram fazer) ao vivo.

Derek Shullman, líder do Gentle Giant, gênio compondo, cantando e produzindo, seguiu exitosa carreira na indústria fonográfica, garimpando música de qualidade.