quarta-feira, 4 de abril de 2007

Nem parece banco...

Cancelamento de um débito automático - a saga. Situação: pessoa da "quarta idade" (pelo critério de contagem de quinze em quinze anos) verifica, com surpresa, em seu extrato bancário, um desconto de 20 reais descrito como "seguro". Sendo um beneficiário de aposentadoria mínima da previdência social, tinha o hábito de retirar os "caramingüás" (em torno de 250, 300 reais) mensalmente, sem solicitar extratos.

Comédia de horror em 7 capítulos

1. A saga inicia-se pela singela indagação, na agência bancária, sobre a origem "da operação". Onde e quando haveria uma autorização dada para o referido débito automático?

2. Vinte e quatro horas após, eficientemente, o comunicado é de que o débito fora devidamente desprogramado. Ufa! Não haverá mais o desconto...

3. Mais dois dias passam. Toca o telefone e uma anapaula (daquelas operadoras de telemarketing) diz ao aposentado que há um crédito para ser "apanhado" no banco. Alegria: os descontos de cerca de 18 meses - foi esse o tempo em que o débito automático agiu na surdina - devem ser ressarcidos.

4. De volta para casa, o que "apanhara" o idoso cidadão? Um crédito, sim, mas consignado. Pasmo! Um empréstimo, não solicitado e tentativamente negado. Argumento "de morte" usado pelo vendedor de plantão: se o senhor não precisa do dinheiro, pode abrir uma poupança com ele e guardar para uma emergência. Sem noção (nossa melhor versão para a expressão inglesa "non sense"). Como pode, em sã consciência, um brasileiro ludibriar um seu compatriota induzindo-o a tomar com a mão direita um empréstimo ao custo de 2,5% ao mês e "investí-lo" com a mão esquerda à taxa de 0,6% mensal? Parece que o treinamento dos bancos anda muito bem estruturado, a ponto de obter esses ótimos vendedores... de pesadelos. E mais! Um outro produto viera, de quebra, no alforje: um plim (se fossem dois, recitados talvez fizessem aparecer o Faustão numa nuvem de fumaça encantada). E tome plano de capitalização! Daqueles que você compra para dar "reciprocidade" ao gerente chato e que quando, invariavelmente, saca antes dos 60 meses, faz deixar, de presente para a banca, metade do principal.

5. Intervenho na mesma data. Em contato com a matriz da casa bancária, sou encaminhado a uma assistência de gerência - uma espécie de gerente genérico. Algum tipo de anapaula mais graduada. Ouço que nada mais pode ser feito porque o INSS é muito ágil (!!!) e o crédito na conta "deverá estar sendo disponibilizado" (sic) já no dia seguinte. Quanto ao plim, este sim, pode sumir imediatamente num plunct-plact-zum...

6. Depois de testemunhar o atestado de competência para a nossa previdência nacional, resta-me usar o único expediente que pode mudar um script de tele-atendimento: a ameaça de acionar a justiça (aquela que, no Brasil, tarda e também falha, mas que a todos assusta pelo nível de cefaléia que provoca "nas partes"). A menção dos três sortilégios "propaganda enganosa", "má-fé" e "código de defesa do consumidor" (registre-se que os bancos tentaram - na mesma justiça tupiniquim - não serem enquadrados no CDC pois não caracterizariam, seus serviços, relações de consumo!?! - perderam, Deo Gratias!), foram suficientes para abortar o blá-blá-blá pré-programado e a robótica anapaula comprometeu-se a "estar verificando" (sic dois) a possibilidade de cancelamento da penca de "benefícios" impingidos ao agora, circunstancialmente, devedor do banco pelos próximos 36 meses. "Mas o correntista vai ter que estar comparecendo pessoalmente na agência (sic três) para pedir a quitação imediata do débito, arcando com os juros dos dias corridos". De acordo.

7. Quarenta e oito horas depois da enunciação da praga tripla, surpresa. Fora conquistada a anulação pura e simples dos arbitrários atos, sem necessidade de quitação de juros ou tarifas. Talvez seja tática para que se olvide o motivo que deu início à saga: o débito automático indevido, do qual não se ouviu mais notícia, senão "uma possibilidade de que tenha sido dada autorização para débito por telefone". Mas isto fica para outra data, talvez longínqüa, pois requererá a paciência de um Watson e a astúcia de um Sherlock - tempo para a produção de mais alguns cômicos desenhos animados, que nem parecem de banco...

Nenhum comentário: