Quatro horas depois - ou seja, uma eternidade e meia após o ocorrido - os (péssimos) administradores do Museu de Arte de São Paulo chamaram a polícia para relatar um furto.
Não um furto qualquer, mas a subtração, roubo, ou até seqüestro - como preferem alguns -, de duas obras de arte cujo valor estimado gira em torno de 100 milhões de reais.
Um Portinari que todos conhecemos dos livros de História do Brasil e um Picasso da fase azul, verdadeira jóia de coroa, "perdida" abaixo da linha do Equador.
O que será que dá para fazer em quatro horas?
Alguns palpites:
(a) ficar engarrafado na Marginal do Tietê, debaixo de chuva;
(b) fazer umas comprinhas na Oscar Freire;
(c) conhecer um dos cinco diligentes diretores da ANAC perambulando pelas filas do Tom Jobim;
(d) ir de carro até o Rio;
(e) voar de teco-teco para fora do país.
Preferidas, acho, dos meliantes: alternativas "d" e "e".
Crise? Que crise?
A imprensa vem dando conta, há mais de uma década, da situação crítica que paira sobre o belo prédio de Lina Bo Bardi no altiplano da Nove de Julho. Até a energia já foi cortada por falta de pagamento!
O MASP completa 60 anos e nada há para comemorar. Em poucos meses, pelo menos do que ficamos sabendo, três tentativas de assalto - a última bem sucedida. Como num filme, os ladrões, que algum gênio, na TV, desses que a mídia pauta quando quer ouvir a "intelligentsia" patropi, chamou de "pés-de-chinelo", testaram suas estratégias. Cinematograficamente, deram aulas de simplicidade: primeiro renderam um vigia (se é que um sujeito "terceirizado", recebendo salário de fome pode vigiar alguma coisa, senão o próprio estômago); depois, mais sofisticados, tentaram com maçarico - deram n'água. Aí, então, a idéia genial: um macaco hidráulico! E proveram imagens de fazer babar um Woody Allen: câmara lenta (e suja) em preto-e-branco (na melhor tradição do cineasta novaiorquino), trilha sonora minimalista de carros passando e conversa ao longe (dos "seguranças" fazendo chacrinha no subsolo) e vultos sem máscara, porém irreconhecíveis pela (falta de) qualidade do equipamento "de vigilância".
Eu só queria saber...
Quantos fulanos faziam a "segurança"? Meia dúzia? E entre 5:09 e 5:12 h estariam fazendo a "troca da guarda"? Quer dizer que numa mudança de turno, ao invés de um indivíduo render o outro em seu posto, ambos vão fazer convescote alhures? Está mal a nossa coleção de Degas.
Como disse um dos "guardas" ouvidos: - o alarme estava desligado porque "vivia disparando"... ah, bom.
Patrocínio: PIB paulista
O museu que foi erguido e recheado pela benemerência (claro que com algum "incentivo" impublicável do Chatô) dos industriais paulistas, e que ainda hoje vive de promover eventozinhos para esses mesmos industriais, esmerando-se em produzir gigantescos banners, imprimir luxuosos books, e distribuir disputados gadgets e outras bugigangas "culturais" que tais, não investindo no essencial, deteriora-se. Prédio e instituição, ano após ano, assistem a gestões incompetentes e nada transparentes.
Podíamos fazer o seguinte raciocínio: o museu é privado, mas a cada aporte feito por governos (aliás, o último aporte da prefeitura de São Paulo, pela ínfima quantia, é de fazer rir) e através de leis de incentivo fiscal, deveria ir tornando-se público. A cada real ali colocado, proveniente dos impostos que todos pagamos: I.R., I.C.M.S., I.S.S., I.P.T.U., deveria o estatuto do museu sofrer uma alteração contratual, consignando menos participação dos "mantenedores institucionais" e mais da população de contribuintes - a qual, acredito, pelos anos passados, já deveria estar na condição de "acionista majoritária" do MASP. Teríamos, então, pelo menos, mais transparência na gestão.
Arvoram-se os marketing managers em promover todo o tipo de factóide em cima da imagem do MASP, de sua sede e de seu acervo. Mas vá perguntar aos seus producers, se esses patrocinadores permitem que se destine verba para melhorar banheiros, contratar melhor e mais sofisticada vigilância, aquisição de equipamento de segurança ou criação de um corpo de pesquisadores e estagiários remunerados para fazer o museu de fato crescer e não só ser consumido por festas e mais festas fechadas e dirigidas para um grupelho de sanguessugas engalanados? A resposta é um invariável NÃO. Os valores devem ser milimetricamente contados e destinados ao plano de mídia - espontânea e muito bem paga, à emissão de convites e catálogos e até à contratação dessa ou daquela "celebridade" para o dia D.
Pietro Maria Bardi, in memoriam
Precisamos de competência, ou, como disse um meu mestre da FGV: "a promoção e a proteção da cultura, através de esforços públicos e privados, diretos ou indiretos, necessita, complementarmente, de boa gestão; de boa gestão de marketing, do marketing na cultura".
No dia em que a arte e a cultura tiverem os mesmos cuidados que a sede e a imagem da sua vizinha FIESP, teremos chegado não ao tão sonhado investment grade mas a um mero e civilizado educated grade, tanto de patrões e políticos, como de trabalhadores e cidadãos comuns - que numa tarde qualquer resolvam subir as escadas do Assis Chateaubriand e fruir o que houver restado da incúria desse tempo presente.
sábado, 22 de dezembro de 2007
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
O assalto (aos cofres públicos) não será televisionado
Por azar (ou sorte), numa mesma semana assisti a um programa (na Globonews) sobre o sistema de segurança "legado" dos jogos pan-americanos e ao filme "Duro de matar 4.0". Quantas semelhanças!
Por aqui, na nossa realidade, um ambiente hightech cheio de monitores. E policiais fardados em postura de atentos digitadores. Na tela do filme - a ficção - o mesmo ambiente. E as semelhanças não param por aí. O que se vai ver, em ambos os casos, é a inutilidade de tanta parafernália.
Enquanto o tecno-burocrata explicava hardware e software para a - ótima - repórter Sandra Passarinho, descortinavam-se, ao vivo, imagens de colisões, assaltos, atropelamentos. Melhor jornalismo, impossível.
Perguntas que não querem calar
Acontece que encaminharam uma jornalista não iniciante para fazer a matéria. Conseqüentemente, apesar de toda a torcida da mídia a favor do governo fluminense, vieram as perguntas devidas: - e o que é que a polícia faz com essas imagens? - como fica aquele caso ali de batida na ponte Rio-Niterói por uma parada irregular? Respondia, imbuído de técnica impecável, o cibernético e engravatado consultor: - agora temos os sistemas state of the art graças ao pan! - isto vai reforçar as estatísticas da segurança pública do estado do Rio de Janeiro! - o parâmetro "customizado" da atuação tecnológica colocada a reboque da atividade de segurança mudará os paradigmas da convivência urbana no século XXI!
Ou seja, muita bobagem. Um sistema milionário que não tem o devido back up nas ruas. Nossos oficiais vidrados nos vídeos, ao invés de estar na rua, bocejam à espera do fim de mais um turno refrigerado. No filme, o roteirista foi mais simplório: sugeriu que, para neutralizar todo aquele "big brother", bastaria tirar a tomada e isolar os valorosos combatentes armados (de teclas e plugs) até os dentes, em seu escuro bunker que fica em... lá como cá, ninguém sabe onde.
Quando a ficção - muito cara e muito bem paga a Hollywood - encontra a realidade muito pobre de recursos e de espírito da nossa ineficiente máquina estatal em um roteiro comum, talvez seja melhor mudar de canal. Que tal a Islândia?
Consolo (?)
A ineficácia, o desperdício de dinheiro, de tempo e até de vidas humanas não são privilégio nosso. Londres, que já conta com uma câmara de vídeo-vigilância para cada 14 habitantes, apesar do back up que permite que policiais de carne e osso abordem uma ocorrência cinco minutos após a sua visualização na central, não garantiu que se evitasse os ataques aos sistemas de transporte da cidade ou mesmo o assassinato, pela própria polícia, de um cidadão inocente, como aconteceu com o brasileiro Jean Charles de Menezes.
Por aqui, na nossa realidade, um ambiente hightech cheio de monitores. E policiais fardados em postura de atentos digitadores. Na tela do filme - a ficção - o mesmo ambiente. E as semelhanças não param por aí. O que se vai ver, em ambos os casos, é a inutilidade de tanta parafernália.
Enquanto o tecno-burocrata explicava hardware e software para a - ótima - repórter Sandra Passarinho, descortinavam-se, ao vivo, imagens de colisões, assaltos, atropelamentos. Melhor jornalismo, impossível.
Perguntas que não querem calar
Acontece que encaminharam uma jornalista não iniciante para fazer a matéria. Conseqüentemente, apesar de toda a torcida da mídia a favor do governo fluminense, vieram as perguntas devidas: - e o que é que a polícia faz com essas imagens? - como fica aquele caso ali de batida na ponte Rio-Niterói por uma parada irregular? Respondia, imbuído de técnica impecável, o cibernético e engravatado consultor: - agora temos os sistemas state of the art graças ao pan! - isto vai reforçar as estatísticas da segurança pública do estado do Rio de Janeiro! - o parâmetro "customizado" da atuação tecnológica colocada a reboque da atividade de segurança mudará os paradigmas da convivência urbana no século XXI!
Ou seja, muita bobagem. Um sistema milionário que não tem o devido back up nas ruas. Nossos oficiais vidrados nos vídeos, ao invés de estar na rua, bocejam à espera do fim de mais um turno refrigerado. No filme, o roteirista foi mais simplório: sugeriu que, para neutralizar todo aquele "big brother", bastaria tirar a tomada e isolar os valorosos combatentes armados (de teclas e plugs) até os dentes, em seu escuro bunker que fica em... lá como cá, ninguém sabe onde.
Quando a ficção - muito cara e muito bem paga a Hollywood - encontra a realidade muito pobre de recursos e de espírito da nossa ineficiente máquina estatal em um roteiro comum, talvez seja melhor mudar de canal. Que tal a Islândia?
Consolo (?)
A ineficácia, o desperdício de dinheiro, de tempo e até de vidas humanas não são privilégio nosso. Londres, que já conta com uma câmara de vídeo-vigilância para cada 14 habitantes, apesar do back up que permite que policiais de carne e osso abordem uma ocorrência cinco minutos após a sua visualização na central, não garantiu que se evitasse os ataques aos sistemas de transporte da cidade ou mesmo o assassinato, pela própria polícia, de um cidadão inocente, como aconteceu com o brasileiro Jean Charles de Menezes.
domingo, 19 de agosto de 2007
Não é brinquedo não!
Agosto, sempre referido como mês das bruxas, trouxe de presente mais um negócio da China. Mas dessa vez não era uma das cantilenas que a mídia internacional reverbera para ver se a gente - e ela própria - acredita, tais como "a locomotiva do progresso", "superpotência do século XXI", "salvação dos exportadores de commodities", entre outras pérolas. Tratava-se de uma das maiores operações de recall de que se tem notícia.
Recall (procuncia-se ricóu) - é um chamamento público feito por organizações e que se refere, na grande maioria das vezes - à constatação, antes ou depois de denúncia, de que algum defeito de fabricação em seus produtos pode levar risco não previsto a seus consumidores/usuários.
Vale para automóveis, carne congelada, medicamentos, refrigerante, computadores. Há casos recentes de carros que incendeiam, filés que matam, refrigerantes que adoecem, remédios que não curam e computadores que explodem. E, como sói fazer a globalização, afetam consumidores no mundo todo.
Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa
Uma coisa é um incidente fabril. Algo razoavelmente fácil de ocorrer e de detectar. Outra coisa é a prática da sabotagem. Algo bem mais raro e difícil de se descobrir antes que algum mal ocorra. Outríssima coisa é, no entanto, quando a hipocrisia de pessoas, empresas e mesmo de nações, atinge cidadãos indefesos, sem que tribunais ou quaisquer outros tipos de organismo possam protegê-los a tempo.
É de se perguntar até quando a boa fé da humanidade suportará casos fatais que surgem na esteira do "livre" comércio e sob a égide do "equacionamento de custos para manutenção de preços competitivos".
O filme intitulado "Disclosure", que teve o título (mal) vertido para "Assédio Sexual" no Brasil, trata, muito antes de assédio, de contratos de grandes empresas ocidentais com obscuros fabricantes terceirizados do último mundo (Vietnam, Camboja), justamente pelo fato de que esses países não "atrapalham" o empreendedorismo com "questiúnculas", tais como preocupação com fontes sustentáveis de matérias-primas, respeito à saúde do trabalhador, remuneração digna, direitos trabalhistas, ergonomia, ambiente fabril asséptico etc. etc. etc. E que pagam 28 centavos de dólar por hora de trabalho - um recorde mundial. Imbatível.
Se conhecêssemos as instalações e as criaturas escravizadas que manufaturam nossos impactantes tênis de jogging, tenho certeza, nunca mais daríamos um tostão às gigantes do material esportivo que torram bilhões negociando o patrocínio de competições internacionais.
Quem já visitou uma fábrica de conservas em uma das cidades-jóias do oriente ou pediu para ir ao banheiro em um restaurante daquelas bandas sabe do que se trata. A tragédia da gripe aviária descortinou um pouco desse lado oriental que pouco recomenda: gente, porcos e aves habitando o mesmo cômodo numa palafita que não põe defeito na (tão nossa) civilização do mangue, cantada por Chico Science.
Pois bem. E não é que o Brasil declarou que considera a China uma economia de mercado? Sim. E por que? Para, atendendo a essa chantagem, ter mais mercado para exportação.
Mas e o que importa?
Brinquedos pintados com chumbo e imãs que descolam aqui para colar em algum estômago ali ou em um intestino acolá. Quem vai saber? Ainda mais se foi comprado, sem nota, na loja por $1,99...
Mas e o que importa?
Brinquedos pintados com chumbo e imãs que descolam aqui para colar em algum estômago ali ou em um intestino acolá. Quem vai saber? Ainda mais se foi comprado, sem nota, na loja por $1,99...
Já há alguns anos surgia a denúncia de que, por falta de legislação sanitária, os fabricantes de brinquedos chineses adquiriam plástico reciclado que incluía restos de material hospitalar...
Globalização assim, ninguém merece!
Globalização assim, ninguém merece!
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Metrô na superfície... da mediocridade
Quando o Metrô do Rio de Janeiro passou a explorar ônibus especiais com o objetivo de aumentar sua rede de bairros atendidos, a população - justamente - aplaudiu a iniciativa.
Os ônibus, equipados com ar condicionado, sistema de som executando apenas música de concerto, paradas pré-estabelecidas e bilhetagem incluída no preço das viagens comuns, foram um avanço e um bom remendo à falta de investimentos crônica que assolou a companhia, tanto antes quanto depois de sua privatização. Os ônibus partiam a horários regulares e serviam a linhas diversas, cobrindo dois itinerários diferentes na zona sul da cidade.
Agora, como diz o populacho carioca, "virou bangú". Linhas foram fundidas - ah! a onipresente otimização de custos - e os ônibus ficam esperando na estação de origem (Siqueira Campos) até que entupam de passageiros. Os motoristas, velhos de guerra, já acostumados às práticas selvagens das empresas de ônibus do Rio - desde os vovôs "lotações" - esperam impassíveis e os fiscais, postados às portas dos veículos, monitoram o "enchimento da lingüiça" (no lingüajar de um deles) por rádio, comunicando ao próximo ônibus quando aparecer para a próxima "carga". Mais um capítulo para a interminável discussão sobre a (não) ação de agências reguladoras na supervisão dos serviços públicos prestados no país.
No caso do estado do Rio de Janeiro temos não só uma, mas duas agências! A Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (AGENERSA) e a Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e Rodovias do Estado do RJ (AGETRANSP). Você sabia?
No caso do estado do Rio de Janeiro temos não só uma, mas duas agências! A Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (AGENERSA) e a Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e Rodovias do Estado do RJ (AGETRANSP). Você sabia?
terça-feira, 7 de agosto de 2007
O meio e a mensagem
E o marketing vira malketing...
Quando uma autoridade - ou seus assessores - acredita que a percepção que este ou aquele segmento da opinião pública tem a respeito do seu trabalho é uma questão de marketing, temos aí um mau exemplo do emprego da palavra técnica que não ganhou tradução entre nós, brasileiros: marketing.
Mas quando, para além da fala infeliz, veículos de comunicação reproduzem tais "pérolas" sem o devido reparo - que poderíamos esperar de uma mídia responsável em um país de semi-analfabetos -, ampliando a (errônea) compreensão de que marketing é algo "do mal", aí temos mais que mau jornalismo. Trata-se de deseducação. Burra e perigosa ao mesmo tempo. Isto porque os veículos de comunicação são a ponta mais bem acabada de toda e qualquer estratégia de marketing e desses próprios é que não se pode tolerar a mal-versação do termo.
Quando uma autoridade - ou seus assessores - acredita que a percepção que este ou aquele segmento da opinião pública tem a respeito do seu trabalho é uma questão de marketing, temos aí um mau exemplo do emprego da palavra técnica que não ganhou tradução entre nós, brasileiros: marketing.
Mas quando, para além da fala infeliz, veículos de comunicação reproduzem tais "pérolas" sem o devido reparo - que poderíamos esperar de uma mídia responsável em um país de semi-analfabetos -, ampliando a (errônea) compreensão de que marketing é algo "do mal", aí temos mais que mau jornalismo. Trata-se de deseducação. Burra e perigosa ao mesmo tempo. Isto porque os veículos de comunicação são a ponta mais bem acabada de toda e qualquer estratégia de marketing e desses próprios é que não se pode tolerar a mal-versação do termo.
Erro recorrente
Quando a cantora Maria Rita quis explicar o episódio constrangedor em que sua gravadora distribuiu i-Pods aos jornalistas presentes a lançamento fonográfico - recebendo-os todos de volta - atribuiu a idéia da ação ao departamento de marketing, "né, gente?".
Então, tá, Maria Rita. Fica combinado que o departamento de marketing é aquela salinha de onde só saem coisas-ruins, monstruosidades anti-artísticas, engodos e forçações de barra.
Enquanto não respeitarmos o marketing em tudo aquilo que significa o seu processo integral, ou seja, a concepção de produtos/serviços, sua viabilização econômico-financeira, sua distribuição e sua comunicação e limitarmos o seu entendimento à visível propaganda, e sobretudo àquela do tipo enganosa, como a atribuída aos políticos, não podemos aspirar à posição de país contemporâneo, com mídia livre e opinião pública digna de crédito.
(Comentário acerca da matéria publicada no jornal O Globo, em 05/08/2007, sob o título "Classe média é problema de marketing, diz Planalto" - capa e página 13).
Quando a cantora Maria Rita quis explicar o episódio constrangedor em que sua gravadora distribuiu i-Pods aos jornalistas presentes a lançamento fonográfico - recebendo-os todos de volta - atribuiu a idéia da ação ao departamento de marketing, "né, gente?".
Então, tá, Maria Rita. Fica combinado que o departamento de marketing é aquela salinha de onde só saem coisas-ruins, monstruosidades anti-artísticas, engodos e forçações de barra.
Enquanto não respeitarmos o marketing em tudo aquilo que significa o seu processo integral, ou seja, a concepção de produtos/serviços, sua viabilização econômico-financeira, sua distribuição e sua comunicação e limitarmos o seu entendimento à visível propaganda, e sobretudo àquela do tipo enganosa, como a atribuída aos políticos, não podemos aspirar à posição de país contemporâneo, com mídia livre e opinião pública digna de crédito.
(Comentário acerca da matéria publicada no jornal O Globo, em 05/08/2007, sob o título "Classe média é problema de marketing, diz Planalto" - capa e página 13).
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Olímpica mesmo é a pan-hipocrisia da mídia brasileira
Assim é se à Globo parece
Não bastasse a humilhação pela qual passou o presidente da República do Brasil, país-sede, na abertura dos XV jogos pan-americanos, quando, preparando-se para discursar após o ruído da galera (vaias e aplausos, dos quais a mídia só ouviu - e repercutiu - as primeiras), foi rudemente interrompido pelo deus (do Olimpo, que se acha) Nuzman, abrindo oficialmente os jogos; vem a Globo, through Bonner & cia., e inventa - apesar da perplexidade "ao vivo" de ninguém menos que Galvão (Brasil!!!) Bueno - que "Lula quis evitar o constrangimento e desistiu de falar ao público".
Mais tarde, no jornal das 10 (Globonews) a invenção foi repetida ad nauseam.
Um país, uma mídia, 190 milhões em ação. Prá frente Brasil - uma só opinião
Decepção! Pavor! Descrédito! Pasmo ao ver nos sites dos mais diversos jornais online a mesma - ou parecida - versão: o presidente Lula desistira de falar por que fora vaiado três, quatro, cinco vezes (dependendo da vontade dos diferentes veículos). Parece que todos os jornalistas assistiram à cerimônia pela televisão - e, pior, pela Globo.
Na hora de bancar um evento que custou doze vezes mais que o orçado, as autoridades (e lá estavam, ao lado de Lula, o governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia) foram todas convocadas a abrir os cofres (que abriram, vide a presepada que viaturas de todas as cores vêm protagonizando já há dias na cidade maravilhosa). Quando chega o momento - fugaz - de terem, as mesmas autoridades, o "gostinho dos mecenas" - no jargão do marketing de patrocínio - a mídia, justo quem, alia-se ao povo "sofrido" e tome um maraca inteiro de vaia neles! É para aprender, senhores políticos, governantes e demagogos em geral. O sistema não perdoa. Beneficia-se de benesses, anunciantes milionários (o pan é 1/3 patrocinado pelo Governo Federal através das quotas da Caixa Econômica Federal e da Petrobras entre seis assinaturas), mas faz jogo sujo escudado numa isenção jornalística que não existe mais nem nos bancos das faculdades de comunicação.
GLOBO MARCAS
E a poderosa ABERT (adivinhe quem controla a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão?) ainda se queixa da classificação indicativa da programação que o Ministério da Justiça quase que se desculpa pelo incômodo de "sugerir". Que temor aflige a honorável ONG patronal? O de não poder mais fazer a lavagem cerebral diária que executa com precisão desde o tempo dos Irmãos Coragem?
Não bastasse a humilhação pela qual passou o presidente da República do Brasil, país-sede, na abertura dos XV jogos pan-americanos, quando, preparando-se para discursar após o ruído da galera (vaias e aplausos, dos quais a mídia só ouviu - e repercutiu - as primeiras), foi rudemente interrompido pelo deus (do Olimpo, que se acha) Nuzman, abrindo oficialmente os jogos; vem a Globo, through Bonner & cia., e inventa - apesar da perplexidade "ao vivo" de ninguém menos que Galvão (Brasil!!!) Bueno - que "Lula quis evitar o constrangimento e desistiu de falar ao público".
Mais tarde, no jornal das 10 (Globonews) a invenção foi repetida ad nauseam.
Um país, uma mídia, 190 milhões em ação. Prá frente Brasil - uma só opinião
Decepção! Pavor! Descrédito! Pasmo ao ver nos sites dos mais diversos jornais online a mesma - ou parecida - versão: o presidente Lula desistira de falar por que fora vaiado três, quatro, cinco vezes (dependendo da vontade dos diferentes veículos). Parece que todos os jornalistas assistiram à cerimônia pela televisão - e, pior, pela Globo.
Na hora de bancar um evento que custou doze vezes mais que o orçado, as autoridades (e lá estavam, ao lado de Lula, o governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia) foram todas convocadas a abrir os cofres (que abriram, vide a presepada que viaturas de todas as cores vêm protagonizando já há dias na cidade maravilhosa). Quando chega o momento - fugaz - de terem, as mesmas autoridades, o "gostinho dos mecenas" - no jargão do marketing de patrocínio - a mídia, justo quem, alia-se ao povo "sofrido" e tome um maraca inteiro de vaia neles! É para aprender, senhores políticos, governantes e demagogos em geral. O sistema não perdoa. Beneficia-se de benesses, anunciantes milionários (o pan é 1/3 patrocinado pelo Governo Federal através das quotas da Caixa Econômica Federal e da Petrobras entre seis assinaturas), mas faz jogo sujo escudado numa isenção jornalística que não existe mais nem nos bancos das faculdades de comunicação.
GLOBO MARCAS
E a poderosa ABERT (adivinhe quem controla a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão?) ainda se queixa da classificação indicativa da programação que o Ministério da Justiça quase que se desculpa pelo incômodo de "sugerir". Que temor aflige a honorável ONG patronal? O de não poder mais fazer a lavagem cerebral diária que executa com precisão desde o tempo dos Irmãos Coragem?
Por que o Gentle Giant não decolou? (internauta pergunta no orkut)
Respondo:
Para mim o Gentle Giant não só decolou, sim, como ainda não pousou. Afinal, uma banda inglesa, compondo música rebuscada, inspirada em um estilo medieval, de letras-mensagens lúcidas (e não só refrões yeah-yeah-yeah - nada contra) ou "viagens" tipo Yes ou Pink Floyd (nadíssima contra também), mas totalmente out of the pops, que gravou entre 1971 e 1980 e que é tema de chat e site (www.blazemonger.com/GG) na internet e no orkut em 2007 só pode ser tudo de ótimo - do melhor que a tão criticada indústria fonográfica já produziu.
Os caras não "decolaram" para o patamar de celebrities (graças a Deus para eles e para nós) simplesmente porque não quiseram. Veja a ousadia do grupo (e dos produtores deles - e até da major company deles, a BMI), na mensagem (em versão brasileira de Nelson Seckler) de capa do segundo disco, o Acquaring The Taste: "Acquaring the taste é a segunda fase do prazer sensorial. Se você se empapuçou com o nosso primeiro disco, então saboreie os mais finos gostos (assim esperamos) deste segundo prato. A nossa meta é expandir as fronteiras da música popular contemporânea, mesmo correndo o risco de nos tornarmos muito impopulares. Gravamos cada composição com uma só idéia: que ela fosse uma aventura única e fascinante. Para conseguir isso, tivemos que usar até a última gota dos conhecimentos musicais e técnicos do grupo e de cada um. Desde o início, abandonamos todas as fórmulas comerciais da indústria da música. Em lugar disso, escolhemos dar a você algo muito mais substancial, que saciasse o seu paladar. Tudo o que você precisa fazer agora é relaxar e perceber o sabor" - Grã-Bretanha, 1971.
É claro que o Gentle Giant era uma banda formada por músicos virtuosos que deu-se muito bem em estúdio. Para o bom ouvinte, o que o Gentle Giant fazia acontecer com os instrumentos e equipamentos de então dá o que pensar até hoje. Não eram os atletas-narcisistas típicos de palco, mas se recordarmos bem, The Beatles também constituíram uma ótima banda de estúdio, cujos discos são em nada comparáveis àquilo que fizeram (ou tentaram fazer) ao vivo.
Derek Shullman, líder do Gentle Giant, gênio compondo, cantando e produzindo, seguiu exitosa carreira na indústria fonográfica, garimpando música de qualidade.
Para mim o Gentle Giant não só decolou, sim, como ainda não pousou. Afinal, uma banda inglesa, compondo música rebuscada, inspirada em um estilo medieval, de letras-mensagens lúcidas (e não só refrões yeah-yeah-yeah - nada contra) ou "viagens" tipo Yes ou Pink Floyd (nadíssima contra também), mas totalmente out of the pops, que gravou entre 1971 e 1980 e que é tema de chat e site (www.blazemonger.com/GG) na internet e no orkut em 2007 só pode ser tudo de ótimo - do melhor que a tão criticada indústria fonográfica já produziu.
Os caras não "decolaram" para o patamar de celebrities (graças a Deus para eles e para nós) simplesmente porque não quiseram. Veja a ousadia do grupo (e dos produtores deles - e até da major company deles, a BMI), na mensagem (em versão brasileira de Nelson Seckler) de capa do segundo disco, o Acquaring The Taste: "Acquaring the taste é a segunda fase do prazer sensorial. Se você se empapuçou com o nosso primeiro disco, então saboreie os mais finos gostos (assim esperamos) deste segundo prato. A nossa meta é expandir as fronteiras da música popular contemporânea, mesmo correndo o risco de nos tornarmos muito impopulares. Gravamos cada composição com uma só idéia: que ela fosse uma aventura única e fascinante. Para conseguir isso, tivemos que usar até a última gota dos conhecimentos musicais e técnicos do grupo e de cada um. Desde o início, abandonamos todas as fórmulas comerciais da indústria da música. Em lugar disso, escolhemos dar a você algo muito mais substancial, que saciasse o seu paladar. Tudo o que você precisa fazer agora é relaxar e perceber o sabor" - Grã-Bretanha, 1971.
É claro que o Gentle Giant era uma banda formada por músicos virtuosos que deu-se muito bem em estúdio. Para o bom ouvinte, o que o Gentle Giant fazia acontecer com os instrumentos e equipamentos de então dá o que pensar até hoje. Não eram os atletas-narcisistas típicos de palco, mas se recordarmos bem, The Beatles também constituíram uma ótima banda de estúdio, cujos discos são em nada comparáveis àquilo que fizeram (ou tentaram fazer) ao vivo.
Derek Shullman, líder do Gentle Giant, gênio compondo, cantando e produzindo, seguiu exitosa carreira na indústria fonográfica, garimpando música de qualidade.
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