quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quando o cinema educa... (entrevista com o cineasta Frederick Wiseman).


Com quatro horas de duração, "At Berkeley", filme de Frederick Wiseman, (83 anos e 40 filmes), sobre a universidade pública americana, estreou em Veneza e está no Festival do Rio.

Do clipping: reprodução da entrevista a André Miranda, n'O Globo de 17/08/2013.

O senhor sempre diz em entrevistas que não gosta de explicar seus filmes. Por que?

É porque eu acho que os filmes são autoexplicativos. Minha tarefa é fazer com que o filme seja o melhor possível, e, se ele funcionar, não será necessária uma explicação.

Mas há uma ideia por trás da história, não? Por exemplo, o senhor explicaria a ideia por trás de "At Berkeley"?

A questão é que não é necessário. Ao assistir o filme, você terá quatro horas para enxergar as muitas ideias presentes ali. A única ideia que tive, e que tenho em todos os meus filmes, é que, se eu passasse um tempo em Berkeley, conseguiria fazer um bom filme. Se eu conseguisse explicar para você tudo o que está no filme em 25 palavras, isso significaria que não deveria ter feito o filme. Bastaria publicar essas 25 palavras.

Como a direção de Berkeley recebeu a ideia do documentário num momento delicado como o que as universidades americanas passavam em 2010?

Eu simplesmente escrevi uma carta para o reitor, e marcamos um almoço. Expliquei o que queria fazer, e ele aceitou. A partir daí, pude filmar tudo o que quisesse. Houve apenas um único evento no qual não me deixaram entrar, que foi uma reunião para captação de verbas. Eles ficaram preocupados que a câmera pudesse incomodar as pessoas para quem estavam pedindo dinheiro.

Mas, ainda assim, muitos dos debates que aparecem no documentário lidam justamente com a crise econômica e o financiamento universitário. Qual o senhor acredita ser, neste momento, o principal desafio de uma instituição como Berkeley?

Há alguns parlamentares e também alguns cidadãos que se opõem à educação pública. São pessoas que vão idiotizar nosso país. Há uma recessão na América que fez com que sobrassem menos recursos para a educação pública, mas não podemos aceitar isso. Berkeley é uma das grandes universidades no mundo e tenta encontrar uma fórmula em meio à crise econômica para manter seus bons resultados.

Berkeley é mais uma instituição, das muitas que o senhor escolhe para fazer seus documentários. O que o atrai nesse tipo de abordagem?

Todas as sociedades têm instituições semelhantes às que eu filmo. Em todos os lugares há prisões, hospitais, escolas, exércitos, grupos de dança e por aí vai. A diferença é a forma que assumem em cada país, por isso acredito que as instituições explicam muito de cada sociedade. É por isso que faço filmes sobre elas, por conta de sua importância para compreendermos as sociedades. Por exemplo, meu próximo filme será sobre a National Gallery, de Londres. Mas não vou te explicar qual a ideia por trás dele.
>

Nenhum comentário: