quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ENREDADOS!


A música de Dorival Caymmi é inspiração, sempre, mas é a coluna de Merval Pereira, n’O Globo de 28 último que presta-nos um favor, pinçando do novo livro de Manuel Castells, “Redes de indignação e esperança”, alguns conceitos extraídos da observação atenta do pesquisador sobre as recentes explosões de manifestação popular que levaram a figura anônima, mascarada, do protester à condição de “personalidade do ano” da revista Time, em 2011.

Mantendo-se nas pesquisas de opinião pública com vistas ao pleito presidencial de 2014, apesar de “sem partido”, Marina Silva conseguiu sair na frente de todo o espectro político brasileiro, do experimentadíssimo PMDB ao novíssimo PSD, porque anteviu, nas palavras do colunista, “este movimento autônomo das ruas que rejeita as formas tradicionais de fazer política” – algo comum às manifestações do Brasil atual, às manifestações da chamada “primavera árabe” e aos movimentos occupy antiglobalização que pipocaram ao redor do mundo, ora contra a OMC, nos EUA, ora contra o FMI, na Itália, ora contra Wall Street etc. etc. etc.

Manuel Castells chama a base de todas essas manifestações – internet + celulares + redes sociais – de “plataforma tecnológica da cultura de autonomia” e, no seu livro, diz que “Marina é a exceção entre os políticos – por estar conectada aos novos anseios – e os movimentos sociais em rede vão continuar a lutar, debater, evoluir e, por fim, a se dissolver em suas atuais condições de existência, como aconteceu com todos os movimentos sociais da História”.

O autor, talvez o maior estudioso do fenômeno que ele mesmo batiza de “autocomunicação de massas” conclui que “é muito cedo para avaliarmos o resultado final desses movimentos, embora já possamos dizer que regimes mudaram, instituições foram desafiadas, e a crença no capitalismo financeiro global triunfante foi abalada, possivelmente de maneira irreversível, na mente da maioria das pessoas”.

Se eu tivesse 21 anos, hoje, num país cuja Câmara dos Deputados absolve um seu membro já condenado e já preso, talvez me filiasse ao Black Bloc.

A (in)conclusão a que me permito, no caso brasileiro, é que há arranhões aqui e ali, sim, mas o “status quo” político-econômico não se moveu um milímetro. Ministros, governadores e prefeitos continuam licitando toalhas de algodão egípcio e caviar para seus palácios. Os jatinhos da Força Aérea Brasileira transformaram-na numa empresa de táxi aéreo (deficitária, claro, e às nossas custas). São Paulo tornou-se, agora, “a” capital dos helicópteros, superando Tóquio e Nova Iorque.

E a propaganda política dos partidos continua repetindo na TV a ladainha tosca de que “ouvimos as ruas e queremos a institucionalização da democracia no Brasil”, ou seja, dizem nada para que tudo continue como está. Acho que a “imprevisibilidade positiva” mencionada por Manuel Castells precisa continuar...

E ele finaliza: “o que é irreversível no Brasil e no mundo é o empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens de que tudo o que sabemos do futuro é que eles o farão. Mobilizados”.

Que Deus o ouça, xará.
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