domingo, 31 de agosto de 2008
Um retrato brasileiro do incentivo fiscal
Para nós brasileiros as notícias foram do fiasco integral à consagração minguada dos poucos atletas de ouro, um deles totalmente "americanizado".
Estreamos este ano a lei de incentivo ao esporte. Inauguramos arenas multi-cores, parques super-aquáticos, ginásios poli-esportivos. Todos muito sub-utilizados após os jogos pan-americanos.
Quantos milhões a mais não foram gastos com a pressa e a improvisação de sempre amparadas pelo fato de que iriam significar "uma nova era para o desporto brasileiro". Ah... os políticos e seus discursos...
Quem, de verdade, é que precisa de incentivo?
A resposta parece fácil (e óbvia): o atleta, a equipe, os treinadores, o clube de regatas.
E quem, realmente, recebe o incentivo?
A resposta enrubesce: as teles, os bancos, os cartolas, as cervejarias, a mídia. Repetimos os erros das leis de incentivo à cultura que enquanto aquinhoam os artistas já consagrados, deixam à penúria quem precisa entrar no mercado.
Mercado?
Palavrinha traiçoeira, capaz de assustar os puristas de plantão. Mas no caso dos nossos atletas, exatamente como acontece com nossos artistas e produtores culturais, as leis de incentivo são utilizadas por quem pode mais, deixando à própria sorte quem pode menos.
Mercado nesses casos é - talvez só isso - mercado de trabalho. Trabalho que remunere com dignidade e que permita a alguém viver da dança ou da luta greco-romana, da música de concerto ou da ginástica, da ópera ou do atletismo.
Até o nosso multi-milionário futebol peca pela falência, saindo diretamente das páginas de glórias passadas de nossos craques para as policiais já tão familiares de nossos administradores futebolísticos.
É preciso corrigir os rumos da lei de incentivo ao esporte antes que ela se torne uma outra lei Rouanet, que mais frustra do que dá apoio a quem realmente necessita de incentivo; ou seja, trabalhadores em "início de carreira" e o próprio público "consumidor".
terça-feira, 22 de julho de 2008
Mercado Futuro: um futuro sem mercado
O mundo de Bloomberg
Não importa a hora. Lá haverá um canal online realtime onde linhas de informação correm mais rápido do que você pode ler. A menos que você seja um adrenalinado corretor de valores. Remember "Wall Street: Poder e Cobiça", no título em português, genial "financial-thriller" de Oliver Stone.
Agora são as hipotecas estadunidenses que caem. E mais de 250 mil pessoas já perderam suas moradias - imóveis, agora, irremediavelmente vazios, pois não dinheiro para que alguém os compre, mesmo na bacia das almas.
Arrisco-me a deduzir que o fim do mundo - como a Bíblia o descreve - começou na metade da década de 90 do século XX, quando os mercados financeiros foram desregulamentados visando as aplicações offshore, "around the entire world". Esses mercados, essencialmente financeiros - daqueles que se descolam da economia real - giram um capital inexistente, muitas vezes superior às economias do mundo. E todos os dias muitos perecem para que alguém muito ganhe. É do jogo.
De frente para a semana-réquiem da rodada OMC de Doha, a que se arrasta por sete anos, coloca-se claramente o dilema do mundo: fome VERSUS energia num embate mortal para a espécie humana. Seja pela via da morte por inanição, seja por sede e guerras, seja pela poluição e débitos de carbono.
O que pouco se fala sobre as razões do fracasso da rodada, sempre apresentada com eufemismos tipo "falta de abertura", "subsídios agrícolas", "países industrializados VERSUS países em desenvolvimento" esconde o verdadeiro impasse: os países ricos querem impor aos demais a sua indústria de seguros e resseguros, de comunicação e de educação. A de cultura, de informática, telefonia e de bancos há muito já avassalou o mundo.
O G-7 quer trocar a queda de barreiras alfandegárias (mentirosa pois efêmera; depois o protecionismo disfarçar-se-á de cordão sanitário europeu ou o fim da fast track do executivo estadunidense) pela abertura ao capital estrangeiro nas universidades e nas emissoras de rádio e TV mundo afora. E ainda têm a cara de pau de constranger-se quase às lágrimas quando o chanceler brasileiro diz-lhes que sua lenga-lenga lembra Goebells, fabricando verdades a partir do discurso monocórdio de que são "do bem". Quem morrer verá.
sábado, 3 de maio de 2008
Deu n' O Globo
Deparei-me, na edição de primeiro de maio, com uma notícia triste. Estava lá, na coluna do Ancelmo Gois:
"O samba calado.
Nuno Velloso, o filósofo que se tornou parceiro de Cartola em clássicos como 'Senões', morreu ontem aos 78 anos. O corpo de Nuno, doutor no samba (fez mestrado na Inglaterra, foi assistente de Herbert Marcuse na Alemanha e deu aulas na ESG), será cremado hoje".
O que a nota não mencionou - entre tantas coisas boas que se podia pinçar da biografia de Nuno Linhares Velloso - é que o mestre foi docente, entre outros como Manoel Maria de Vasconcellos e Arthur Tavares Machado, também já falecidos, do curso de Relações Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.Tive a sorte de ter sido aluno desses craques, e entre eles, sempre, o Nuno - nós não sabíamos na ingenuidade dos 19 anos - é que tinha a postura do filósofo, sempre mais fazendo perguntas, a nós e a ele mesmo, do que arvorando-se a ditar respostas em um campo que ele ajudou a construir, o do ensino da Comunicação Social.
Nuno fará falta na Terra, mas levará ao céu a sua carioquíssima verve intelectual. O que talvez ajude os santos guardadores dessa nossa cidade a inspirar rumos mais poéticos para nós, cada vez mais órfãos que aqui ficamos.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Veja e ignore
Repórteres, assim como outros profissionais, infelizmente, vêm exercendo suas atividades de forma acrítica, a serviço exclusivo do ideário de seus patrões. É claro que em um empreendimento privado, a vontade do patrão prevalece. No jornalismo, no entanto, existe um outro 'patrão' por detrás dos chefes: o leitor. Esse tal que muda de jornal (e também de canal e de portal).
FEBEAPÁ
Desserviço à consciência, qualidade rala e ignorância profunda em termos culturais gerais - vide a mudez sempre presente de Diogo Mainardi no último bloco do Manhattan Connection - são os pratos mais servidos na mídia televisiva do Brasil.
Diploma pra quê?
Quem bate na idéia de uma Ancinav são os mesmos que omitiram-se na questão de um conselho federal de jornalismo. Nunca empreenderão, muito poucas vezes assumem o desafio de formar novos profissionais e colocaram-se favoráveis ao aumento da participação de capital estrangeiro na mídia e contrários ao estabelecimento de uma quota de tela nas TVs e cinemas do Brasil.
Apoio o texto de Bittar, substitutivo do Projeto de Lei 29 em discussão no Congresso Nacional.
Embora o teor do PL já tenha aberto mão de algumas percentagens de participação de programação produzida no país, parece-me razoável pelo menos um início de regulação daquilo que, deixado à laissez faire, reduzirá a produção local às inserções 'brasileiras' no Sexy Time e filmes da Xuxa e Didi Mocó.
terça-feira, 11 de março de 2008
Programa furado: o cliente vaza
Num domingo desses cometi o erro de almoçar no Bar do Serafim, antes da subida da rua Alice, no Rio. As moscas já prenunciavam o féretro, mas as alegações de meus acompanhantes de que o lugar valia a pena convenceram-me.
Que horror! As mesinhas sujas não recebiam um pano “eca” que fosse entre um cliente e outro. O serviço... que serviço? Péssimo! Lembrava os maus tratos dados a brasileiros
O
O boteco luso-paraíba vive de memórias-tejanas e matérias-jabá dependuradas nas paredes encardidas. A conta? O preço barato condiz com a qualidade reles do lugar.
Banheiros? Outro caso para a saúde pública. Ou, quem sabe, para a polícia de elite, aquela interessada em “faxinas” e que, de certo, atiraria no bigodudo primeiro, para fazer o pedido depois.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Propaganda com incentivo dos outros é refresco
E a lagoa Rodrigo de Freitas agoniza, como retrata a reportagem publicada no jornal O Globo de 27/12/2007 e intitulada “Lagoa: abandono em cenário de cartão-postal”. Nem por isso a Bradesco Seguros e Previdência deixa de faturar alto em termos de promoção com seu “símbolo de esperança para a família brasileira”.
Árvore de Natal é cultura... nórdica
Cláudio Motta, repórter, escreveu: “Uma paisagem de cartão-postal e a presença da maior árvore de Natal flutuante do mundo fazem da Lagoa um dos pontos mais charmosos da cidade. Mesmo assim, o local sofre com o abandono: mato alto, brinquedos quebrados, postes tortos, trouxas de roupas penduradas por moradores de rua em árvores, lama e mau cheiro deixam chocado quem vai ao local. Nem as águas escapam: estão poluídas e com lixo”.
E vamos ver como fica a Lagoa depois de retirada a parafernália natalina, dia 7 de janeiro. Se for para repetir o ano passado, o cenário será de terra arrasada, tipo "já fizemos o bem à cidade, agora..." que a cidade trate de refazer calçadas destruídas, canteiros dizimados e águas mais sujas ainda. Não seria o caso de obrigar os ilustres sponsors, a, após suas "ações de marketing" realizadas em locais públicos (mesma indagação aparece na matéria sobre o "caso" MASP), devolver logradouros, mobiliário urbano, canteiros e luminárias melhores ainda do que encontraram antes de despejarem a horda de terceiros (eles, sempre eles é levam a culpa nas costas) a seu serviço?
E por falar em árvore, registre-se o absurdo corte de pinheiro centenário para fazer decoração natalina no Vaticano. Será que já não foi a hora de se plantar um pinheiro por lá? Bem, talvez os pontifícios arquitetos discordem... Por que não, então, plantar por lá um monstrengo metálico parecido com o da nossa Lagoa? Há tempos não via imagem tão anti-ecológica quanto a mostrada - com destaque, exultando a beleza do espécime e quão linda árvore natalina daria - no noticiário, registrando a derrubada e o transporte da pobre conífera.
Parada também é cultura... nos Estados Unidos
O banco do mesmo grupo patrocina, com exclusividade, já há dois anos, e também com discutíveis incentivos fiscais, o showbizz “Cirque du Soleil”. E no Rio de Janeiro, a Coca-Cola também “faz das suas” incentivadas artes: obtém renúncia fiscal (estadual) para realizar seu evento multimídia “Vibezone” e a “Parada Iluminada”, evento de Natal. É para pensar...
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Orange County é aqui
Talvez os muitos servidores culturais do alcaide... sim, muitos, porque as secretarias de cultura costumam ter muitos servidores e o Rio não tem uma secretaria de cultura comum, mas uma secretaria de culturas. Isso mesmo, no plural... então, que possam os muitos servidores estudar um pouquinho e explicar ao seu supremo líder que se um bem de patrimônio material requer muito estudo e documentação para obter tombamento e conseqüente proteção; por sua vez, um bem de patrimônio imaterial - caso do samba - requer ainda mais cuidado e critério para registro (palavra que substitui tombamento em se tratando de bens imateriais). Não é algo que se resolva por decreto.
Já não é de hoje que o mala resvala
O nosso Czar já havia considerado dignos de apoio da prefeitura apenas os projetos culturais cuja temática fosse a chegada da família real ao Rio de Janeiro em 1808 e, no início de sua gestão, apoderara-se da cor, dos tipos e da boa imagem da Comlurb, pintando o Rio e sua prefeitura de laranja.
Laranja mecânica
Não satisfeito, depois, o todo-poderoso, mudou a história e alterou o já cinqüentão plano Doxiadis, tascando numa placa: "essa linha agora é laranja", modificando a denominação (correta) da linha vermelha.
Felizmente, o carioca, fazendo do laranja algo melhor que uma laranjada, despachará, o maluquinho para as calendas DEM... para, se Deus (que é brasileiro) quiser, nunca mais voltar.