quinta-feira, 13 de março de 2014

Aulas com chapéu alheio...

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LÁSTIMA

Notícia de hoje dá conta de nova e repetida crise relacionada à contratação de professores substitutos pela UERJ. São 900, num quadro estável de 2.300. Diz-se que são responsáveis por até 60% da carga horária de aulas, o que a Universidade desmente.

Fui chefe de departamento na UERJ algumas vezes. A última, entre 2006 e 2008. Naquela ocasião tínhamos, sim, 60% da carga horária do curso de graduação a nosso cargo, no departamento, dados por colegas substitutos. Em 13 professores ativos, 7 eram contratados precários (a UERJ, ilegalmente, pagava somente 4 meses letivos por semestre, sem férias e sem carga horária para correção de trabalhos e provas ou planejamento de aulas).

TERCEIRIZAÇÃO "DA MARCA"

Isto nos causava revolta, a mim e a meus colegas chefes de departamento (cargo, aliás, não remunerado na UERJ, e fonte infinita de problemas, dores de cabeça e incompreensões) e eu dizia que a UERJ andava "terceirizando seus cursos". Pois se, como era o caso, atuássemos em outras IES e nelas fôssemos buscar "reforços" (aliás, substitutos são rotineiramente elogiados, homenageados em formaturas, e fundamentais para oxigenação dos cursos), corríamos o risco de termos mais "um curso da Gama Filho", por exemplo, do que um curso da UERJ, na própria UERJ...

SÓ PROFESSORES-DOUTORES, POR QUE?

A oxigenação mencionada é bem-vinda, sempre. Mas deveria vir por outras formas, como, por exemplo, o retorno (como fizeram as universidades federais) da contratação de professores auxiliares (graduados e/ou especialistas), atuantes também no mercado de trabalho, contrabalançando a experiência dos estudantes no contato acadêmico - hoje restrito a doutores - os quais, a propósito, não querem trabalhar nos cursos de graduação, levando, isto sim, ao número excessivo de substitutos. Como se pode admitir um curso de Engenharia Civil em que nem um dos docentes atua numa construtora, no dia-a-dia de obras? Ou um curso de Jornalismo em que nem um docente trabalha em veículo de comunicação, seja impresso, de rádio, de TV ou na internet?

DE CRISE EM CRISE A INSTITUIÇÃO SE FRAGILIZA MAIS

Alguma coisa está - muito - fora da ordem quando, por anos a fio, uma Universidade pública do porte da UERJ deixa vagos e mantém 40% dos cargos docentes de seu quadro sendo ocupados por substitutos; precários, mal pagos e mal tratados - verdadeiros "burros-de-carga" dos cursos de graduação.
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