quarta-feira, 10 de junho de 2009

Vazamento poluente no reservatório do P.G.I.

Fatos e Dados

E a Petrobras "furou" os jornalões... que pecado. Assim, sem mais nem menos. Sem aviso prévio. Sem pedir licença aos mesquitas, frias e marinhos.

E o P.G.I. (Partido da Grande Imprensa) se alevanta em defesa da ética jornalística. Mas como, se ele mesmo jamais respeitou ética alguma? Lembremos Chatô, um dos fundadores do partido.

Jornalões são também propriedade dos mesmos barões do rádio, da TV e da internet - é a tal convergência posta ao avesso. Ou seja, todo mundo (meio mundo sem o saber) filia-se, "democraticamente", a websites, a canais, a assinaturas de veículos que pertencem ao mesmo cartel: a mídia que dá base ao P.G.I. É a cartelização do cidadão - o big brother de Orwell não faria melhor. Os grandes bancos são os criadores desse conceito: você tem uma conta-corrente, então deverá adquirir no mesmo "grupo" a poupança, a capitalização, o seguro da casa, do carro e da morte, os investimentos etc. etc. etc. A isto denominam "reciprocidade".

Exigem, os patrões-jornalistas (que no Brasil, como sempre assinala Mino Carta, os empregados insistem em chamar de colegas), que as perguntas enviadas à assessoria de imprensa da Petrobras - isto sim é que deveria ser o alvo de muita discussão acadêmica e profissional, a atuação dos jornalistas em atividades de assessoramento a empresas, instituições e pessoas físicas* - são "autorais", não podendo, portanto, encabeçarem informações passadas ao mercado (ou ao público em geral, melhor dizendo).

Risível. Por acaso alguém já ouviu uma pergunta absolutamente genial em uma coletiva de imprensa, por exemplo? O que será que os jornalistas (escolhidos a dedo, literalmente, por George W. Bush), perguntavam nas coletivas? Não seria algo como "qual a sua atitude diante do deficit primário crescente em seu governo?", ou "quando os Estados Unidos retirarão suas tropas do Iraque?". Não são, certamente, pérolas da literatura ou mesmo do jornalismo investigativo. O que há de tão "autoral" em questionar o presidente da Petrobras (via assessoria, não esqueçamos) quanto aos patrocínios - claro que questionáveis, diga-se de passagem - da empresa; ou, ainda, sobre repasses a ONGs - questionáveis idem - sem licitação pública?

A Petrobras - e hoje qualquer grande empresa, mesmo que não tenha ações em bolsa de valores - deve satisfações públicas. O conceito de "empresa pública", nos países mais desenvolvidos, deixou de significar empresa estatal e passou a ser "o" critério de transparência, de "glasnost" (remember Gorbachev). O balanço social (exigido às empresas na França desde 1977), para o grande público, tem mais significado que as próprias demonstrações financeiras (essas sim, religiosamente publicadas ano após ano pelas companhias de capital aberto).

Sete pecados capitais da mídia tupiniquim

1) A mídia brasileira é a mais cara do mundo, em dólar;

2) A internet de banda larga (larga?) brasileira é, também, a mais cara do mundo, em dólar;

3) A mídia beneficia-se das bilionárias verbas publicitárias de todos os governos: os de direita, os de esquerda, os de centro... qualquer um que detenha um mínimo de poder, mesmo que seja em Serra Talhada;

4) Jornalistas que não encontram colocação na mídia, nove em dez, fazem concursos públicos e correm a formar redações onde quer que seja; no Detran, no MinC, na Presidência da República e na Petrobras (em cada uma das suas 5.568 diretorias, mesmo as que não furam poços);

5) Os jornais beneficiam-se desses pelotões avançados de "coleguinhas" ávidos por traficar influência, prestígio, poder, benesses e, porventura, até alguma entrevista exclusiva, notícia, nota, notinha, furo, vazamento ou "off", bem à escolha do freguês (que, então, tratam de "anunciante");

6) Quando o modelo acima dá errado - como no recente caso da petróleo-blogueira - os patrões saltam nas tamancas e brandem a imparcialidade que nunca praticaram, desde D. Pedro II;

7) Os barões clamam em favor de uma tal de "opinião pública". Ora, nesta matéria, como já ensinou Artur da Távola, o que existe é só a "opinião de quem publica". Mais não há. Talvez com milhões de blogs e portais-cidadãos como o Overmundo, no futuro.

Conversa para boi acordar

Estamos num país de analfabetos no qual metade das crianças não completa o ensino médio e a metade que completa não consegue compreender o que lê - e o que essa geração lê é algo fora dos padrões de uma sociedade letrada - instruções de videogame ou a tabela de preços da academia de ginástica da esquina.

A Petrobras, antes de lançar seu blog, pagou (caro) por um Informe Publicitário** no qual deixava clara a sua insatisfação quanto à cobertura que a "grande" imprensa vinha realizando sobre a CPI, publicando sempre parcialmente os fatos e dados (termo que acabou sendo o título do blog) constantes de seus press releases.

O blog é legítimo, sim, e veio para confirmar os incensados gurus que publicam em O Globo, por exemplo (no seu caderno DIGITAL), as maravilhas da comunicação via web - uma nova geração de liberdade de escolha e interatividade. Qualquer outra baboseira "ética" é papo para tentar enganar leitores e espectadores. Mais uma vez.

P. S.: (23/06/2009) Miriam Leitão, prócer global, chamou hoje, no programa "Bom Dia Brasil", os blogs na web de "uma espécie de info-arma" contra as ditaduras. Que bom que a Petrobras conhecia este tão expert conselho, criando a sua própria info-arma contra a ditadura da "grande" mídia.

* Em países mais sérios que o nosso, a jornalistas, quando no exercício da assessoria de imprensa, é vedado o exercício do jornalismo.

** Informe Publicitário é como a imprensa brasileira denomina a matéria paga. A mídia impressa publica cartas, esclarecimentos públicos ou até textos eminentemente propagandísticos, desde que sob este título. São, comumente, emoldurados com um fio gráfico e com tipos ligeiramente diferentes, os quais, sem esse devido destaque, poderiam passar ao leitor como material editorial.

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