quarta-feira, 7 de março de 2012

A democracia é o regime em que são garantidos plenos e iguais direitos à pessoa... jurídica.

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"Carta" enviada hoje aos mais de 1.000 membros do Clube de Comunicação:

Queridos "sócios" (quem é "sócio" deste clube tem tudo),

Ecoo Mirna Tonus: o que me preocupa - e deveria ser preocupação de toda a cidadania brasileira, se bem que 46 milhões destes estão mais ocupados "votando" em quem será eliminado no próximo "paredão" do Bial - é a qualidade do jornalismo que se faz no país.

Para além da graduação ruim - o que é mau para qualquer área que se pretenda de formação acadêmica - a mais valia grassa, a "pejotização" impera, e, pior, substitui-se jornalistas por estagiários (e durante anos, "entupindo" as vagas nas escolas e roubando empregos de mães e pais de família).

A praga da assessoria de imprensa (quando vista como solução para as escassas vagas em redações - quando fiz Comunicação Social havia 7 jornais diários no Rio) "terceirizou" as redações para os escritórios (muitas vezes em casa, sob custeio privado) dos jornalistas que veem suas matérias saírem sem qualquer apuração, controvérsia, contraponto, crítica etc. etc. etc. E, ainda, "assinadas" por supostos coleguinhas...

Nossos parlamentares, ilegalmente, são donos de veículos e, como muito bem disse Aydano André Motta, em um encontro Aberje de que participei, "se a Folha e O Globo garantem que continuarão a contratar jornalistas formados, de Niterói 'pra cima', a lógica do compadrio, da subserviência, da parentela, do tráfico de influência e dos interesses escusos vai prevalecer".

Do meu ponto-de-vista, jornalismo é para jornalista. Formado. E sou favorável também à criação do seu Conselho Profissional (que os patrões trataram de pintar de "dirigismo", junto à proposta - muito civilizada - da Ancinav, numa iniciativa - que deu certo - de vender a sua visão de "atentado à liberdade"... de lucrar). Em tempo: os veículos de comunicação no Brasil praticam os preços de mídia comercial MAIS caros do mundo EM DÓLAR!

Cidadania robusta pede jornalismo forte. E assessoria de imprensa forte (praticada por jornalistas, relações-públicas ou quem a saiba fazer bem - é mercado, não profissão regulamentada) só existe com jornalismo forte. Jornalismo fraco - cidadania fraca.

Jornalismo fraco e assessoria forte - pior ainda. Só prevalecem as "notas", "notinhas" e "notões" dos clientes das 20 empresas líderes do setor.

Sabem quantas vezes "emplacamos" uma nota sequer sobre "n" cursos (alguns de rotina mas vários inovadores) nos últimos três anos - mesmo no meio digital - na coordenação de extensão na UERJ? Zero!!! Ligávamos para a redação e acabávamos recebendo a visita de um "corretor" de "espaço", vendendo o que é ilegal vender: inserções comerciais "diretas", sem a comissão de agência, por fora, para ficar mais barato (- e ainda produzimos a sua arte, viu?). Vergonha que os publicitários deveriam combater veementemente.

Acabou aquela lenda de que "você prepara o press release, envia para o jornal, depois telefona para a redação, faz uma 'pressãozinha' e reza para conseguir espaço" - que, pasmem, ainda se ensina nas salas de aulas...

Todos nós, dessa grande família (eu ía escrevendo "massa"...) do que o meu amigo Marcelo Ficher (presidente da Comissão de Fiscalização do CONRERP/1a. Região) de "trabalhadores da comunicação profissional" - ou seja, nós, profissionais de comunicação, atuando em veículos, em anunciantes, em instituições em geral - empresas, governo e terceiro setor -, precisamos nos unir, pois vem aí, sempre, cada mais pressão de patrões, que só pensam em produzir o tal "conteúdo" pelo menor custo por segundo, clique ou centímetro-coluna.

É como sempre digo em minhas "aulas inaugurais": "a democracia é o regime em que são garantidos plenos e iguais direitos à pessoa... jurídica".
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