A leitura do jornal, hoje, deixou-me enjoado. Trocando uma letra de lugar, a palavra poderia ser outra - enojado. E ainda assim correponderia ao meu estado.
Vamos aos fatos (ou melhor dizendo, às versões):
Começo pelo editorial OPINIÃO "Caso Erenice tem de ser passado a limpo", que toca numa escolha que representaria anos de avanço (ou atraso) no trato do interesse público em nosso país:
Fixo-me numa só palavra, encontrada (ou perdida) na seguinte frase: "A empresa, relatou Quícoli, não aceitou a pedida de Israel, e o lobby se frustrou".
Editado e impresso assim, não em caracteres itálicos, o termo anglófono lobby parece até algo muito natural, conhecido dos leitores. Não o é. E os poucos que compreendem a expressão associam a palavra a uma outra, saída do vocabulário "lulês": maracutaia (esta, até que fosse pronunciada por Lula, eu é que desconhecia).
Seria bom que homens e mulheres de boa vontade - sobretudo aqueles que querem o poder (qualquer um desses três poderes; executivo, legislativo e judiciário) - e também, principalmente, os representantes do quarto poder (a imprensa, ou a mídia, como queiram), em torno de suas associações (ABERT, ANJ, ABP), pressionassem pela regulamentação do lobbying - uma atividade que em países mais civilizados que o Brasil emprega gente séria há décadas.
"Décadas" também é a medida do tempo que uma emenda constitucional no sentido de legalizar a atividade e seus players, de autoria do parlamentar Marco Maciel, tramita no Congresso Nacional. (Os "lobistas" seriam conhecidos, teriam formal acesso aos lobbies dos palácios legislativos e executivos - daí o nome da coisa - e responderiam transparentemente à sociedade, mesmo porque acossados seriam pelos "lobistas" concorrentes).
E não há lobby que consiga fazê-la andar.
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Prossigo: agora o texto de Luiz Garcia (a quem conheci pessoalmente como convidado a evento acadêmico no Departamento de Comunicação da Universidade Gama Filho que, à época, eu dirigia).
Acabo de completar 35 anos de "carteira assinada" mas, com todo o respeito, é o Luiz Garcia que, acho, devia se aposentar. Seu texto "Rancor e Paranoia", n'O Globo de hoje, é de espantar até o mais renhido seguidor da ideologia "global", na sanha de "bater" em José Dirceu e no PT.
O próprio autor entrega que não devia tê-lo escrito: "Quase não vale a pena rebater, mas não custa lembrar que informar não é um poder, mas uma obrigação dos meios de comunicação. E que o direito de resposta é regulamentado em lei".
Lástima! Três impropriedades:
1) A "pérola" proferida por Dirceu ("a mídia abusa do direito de informar") nem merecia tamanha repercussão, mas o velho jornalista resolveu dar mais um pouco de espaço à besteira.
2) A regulamentação do direito de resposta desapareceu com a queda da Lei de Imprensa, "tornada sem efeitos em sua totalidade" pelo Supremo Tribunal Federal em 30 de abril de 2009, quando a considerou, por ter sido editada em 1967 - plena ditadura - inconstitucional.
3) Confunde meios com veículos. De propósito. Os meios são os jornais, as revistas, as emissoras de rádio e TV, a telefonia, a internet - algo geral e genérico, por definição. Veículos, esses sim, são específicos, têm nome e sobrenome. São empresas: O Globo, Época, Rádio Globo, TV Globo, Vírtua, Globo.com.
E mais!
Continua o velho homem de imprensa: "E é brincadeira falar em monopólio da informação - mesmo numa cidade com apenas um grande jornal, como acontece agora no Rio - quando, além da TV, do rádio e da imprensa, a circulação de informações pela internet expõe a opinião pública a uma massa de fatos e opiniões como nunca antes na história do planeta".
Chamem a geriatria! E tome mais três pílulas:
1) O próprio jornalista admite o - triste - monopólio "global", sobretudo no pobre Rio de Janeiro. E esquece que as mencionadas "opções" da TV (Globo e Globonews), do rádio (CBN, Rádio Globo, Beat 98) e da imprensa (Extra, Valor Econômico) também são "das organizações", seus patrões.
2) Como já ensinara Artur da Távola, "não existe opinião publica, mas opinião de quem publica". Afirmar a diversidade de opiniões baseado na cobertura, acesso e uso da internet é sinal de insanidade. A internet está em 20% dos lares brasileiros, enquanto a TV cobre 99%. E monopólio da informação não se baseia só na escandalosa "propriedade cruzada" (coisa proibida nos países civilizados; um mesmo grupo estar presente em mais de uma região geográfica e possuir veículos em mais de uma modalidade de meios de comunicação), mas na fatia das verbas que mantém a mídia, o tal "bolo" publicitário, do qual "as organizações" garfam 60%.
3) Se assim não é, se o editorialista acredita que a (sic) internet tem o mesmo poder que O Globo, proponho que passe já a escrevinhar em um blog com seu nome, fora de qualquer "grande jornal". E esperemos para comparar, depois, o tamanho da repercussão de suas ideias.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
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