quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Até breve, meu predileto tio.
Nonito.
Privado de sua presença física - a qual aliás muito me entristecia nesses anos de doença - cabe-me expressar o quanto Antonio Villar Ozón representa em minha vida.
A começar pelo nome. Sempre Nonito, muito depois é que fui descobrir-lhe o nome de batismo - Antonio - mesmo de meu santo de - assim ouso dizer - devoção. E de longa tradição em minha família (a devoção).
Meu tio Nonito iluminava os ambientes. Sua presença era sempre central - muito explicando a tristeza de vê-lo quieto, ultimamente, só observando...
Sua voz e seu olhar transbordavam calor humano, carinho, ânimo e alegria. Sua calva reforçava a vocação para tio - aquele que nos leva pela primeira vez ao Jardim Zoológico, ou à Quinta, como ele dizia...
Sempre solícito. Sempre disposto. E muito, muito trabalhador. Ensinando a todos nós, sobrinhos, com seu exemplo. De sol a sol, literalmente, de terno e gravata impecáveis - no calor do Rio de Janeiro. Dirigindo o seu Fusca, ou a Variant, depois o Corcel - sempre estalando de bem cuidados. Comprei-lhe um dos carros - o primeiro Passat. Fazíamos fila para comprar um carro usado do tio Nonito.
"Nipônico", trabalhou 31 anos numa mesma empresa (exatos 31 anos também lá cumpriu minha tia Neusa, sua esposa) - o SARSA (Silva Araújo Roussel S/A) e desvendou para mim a indústria farmacêutica, onde comecei a minha vida profissional no Rio e com pessoas que o conheciam e o respeitavam. Seus ex-chefes do SARSA eram, então, meus chefes no Farmos-Espasil - Lívio Cuzzi e Walter Mesquita.
De uma organização sem par, ensinou-me menino que um quarto de empregada também pode ter outros usos - como um escritório, por exemplo - igual ao que ele mantinha na casa do Riachuelo. (Dali em diante ocupei os quartos de empregada das casas em que moramos em São Paulo. Na Vila Olímpia e no Campo Belo).
Sua escrivaninha era de dar inveja. Havia de tudo lá, e suas mãos delicadas iam precisas atrás de clips, elásticos, fichas de médicos preenchidas com letra de professor.
Era exemplo nas menores coisas. E tocava piano ("sua" música foi também a minha favorita), cantava, dançava. Animava as festas da família, os Natais (era o Papai Noel da sobrinhada) e as viagens que fez, como ninguém, na família.
Não teve filhos naturais, mas teve muitos "sobre-naturais". Conosco passava as férias. Descobríamos a Cidade Maravilhosa em seus passeios; à praia, ao bondinho do Pão de Açucar, ao Corcovado e ao Maracanã, torcer pelo Fluminense. Por causa dele, no Rio de Janeiro, sou tricolor de coração...
Quando passei no vestibular ganhei de Nonito e Neusa minha primeira longa viagem. Ao sul do Brasil. Foram duas semanas inesquecíveis com os tios e a saudosa prima Eloá.
Ganhei deles a minha primeira máquina fotográfica e muitos presentes, sempre especiais. Nunca esqueceram um aniversário. De ninguém.
É claro que não se pode falar de Nonito sem Neusa - minha tia querida que equilibrava o coraçãozão do tio com uma disciplina à la Manduca, meu avô. Sempre de pé. Empertigada. Lá vai a tia Neusa por ordem na casa...
E foram 62 anos (em 92 de vida dela) de um casamento feliz - maior exemplo de que é possível conviver. E isto ser bom.
Eram dupla imbatível nos jogos de buraco. E donos do quarto mais invejado da casa - o único com ar refrigerado. Dormi lá, de carona, algumas vezes. Mereciam a mordomia, pois davam todo o suporte aos meus avós. Ali, naquela casa, eram quatro. Nunca pensei em meus avós sem os moradores do andar de cima do sobrado, onde também morei quando fui estudar na UERJ. Chegava às 11 da noite e sempre encontrava o meu prato de comida cuidadosamente pronto e já sobre a forma com água para esquentar em banho-maria.
Foi maravilhoso estar lá usufruindo quotidianamente de um ambiente de família, mesmo longe dos meus pais e irmãos, ainda em processo de mudança entre São Paulo e Rio. Uma vez aqui fomos morar no "sítio do Nonito", ou "Nosso Cantinho", na Rio-Petrópolis. Só aceitamos vir morar no Rio se fosse na casa que amávamos e passávamos todas as férias.
E também usufruíamos do apartamento do casal em Petrópolis. Amo aquela cidade por causa dessas estadas. Quantas luas-de-mel meus primos não passaram por lá...
Há muito mais. E outras memórias - sempre boas - virão e haverá sempre lugar em meu coração para este tio - esses tios - tão especiais: Nonito e Neusa.
Vida eterna em Deus, tio! Vida longa, tia! Vejamo-nos e convivamos no sempre.
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Um comentário:
Irmão querido.
Realmene nosso Tio Nonito nos deixa lembranças boas demais para esquecer.
Um abraço,
Mário.
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