Está aí uma campanha que tem tudo para crescer... daqui a dez anos. Explico: por volta de 2019, 50 anos depois de o Homem ter pisado na Lua, 100 anos depois do fim da Primeira Grande Guerra Mundial - ou seja, um ano cheio de efemérides importantes - teremos dez anos do fim da obrigatoriedade da exigência de diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista. Por obra e (des)graça do atual colegiado do STF (que em 17 de junho último perpetrou o tiro de morte num dos últimos bastiões da parca democratização dos meios de comunicação no Brasil), qualquer um (desde que aparentado ou apaniguado dos patrões, bem entendido) poderá sentar-se à redação e produzir manchetes, notícias, comentários, críticas, recomendações ao distinto público ouvinte, leitor, telespectador ou internauta debaixo de marcas que até hoje conseguiam um mínimo de credibilidade justamente por ostentarem pessoal de alto nível (com e sem diploma, bem entendido) em seus quadros.
Mais do mesmo. E saudades dos rábulas...
A esta pérola da jurisprudência nacional junta-se outra, talvez de maior quilate ainda e do mesmo time de doutas excelências - o fim da lei de imprensa e, com ela, da regulamentação sobre o direito de resposta. Ou seja, agora, qualquer um desses "novos" profissionais pode escrever o que quiser e você, cidadão, ao sentir-se agredido, humilhado, discriminado ou perseguido em matéria de primeira página, que vá "buscar seus direitos" contratando um advogado (este sim diplomado, para todo o sempre) para pleitear uma notinha em resposta à difamação, daqui a dezoito meses, lá perdida numa página, próxima dos obituários.
Quem vai formar opinião?
Quem perde - em minha modesta opinião - com esta medida de desqualificação dos profissionais da imprensa é a cidadania. Um caso de mal difuso, difícil de medir ou alcançar com as mãos. É sutil o efeito que veículos de comunicação manipulados por empresas familiares (e bota família de político nisso!) gerará na tal da opinião pública. Lembremos do "jornalista" Jason Blair, o qual inventou 90% de suas matérias no The New York Times, provocando, quando descoberto, grande debate sobre a capacidade da sociedade proteger-se de maus profissionais da imprensa. Aliás para isto teria servido a criação - abortada pelo lobby dos mesmos patrões da mídia tupiniquim - de um Conselho Federal de Jornalismo. Teríamos a quem apontar as falhas e pedir reparações na justa medida. Não é ao Conselho Federal de Medicina que encaminhamos nossos pleitos quando mal atendidos por um hospital? Não é ao CREA a quem recorremos quando enganados por um falso engenheiro? Conselhos servem para defender a cidadania de maus profissionais e não para defender uma corporação, esta, sim, função de sindicatos e associações.
Alegam, suas excelências, que a lei que criou a exigência do diploma de jornalismo é parte do "entulho autoritário". Ora, se tudo o que os governos militares produziram é digno de remoção, por que não extinguir a Embraer e a Embrapa? Ou demolir Itaipu e Ilha Solteira? Ou acabar com a Embratel? Ou, ainda, erradicar fundos como o FAT, o PIS, o PASEP, o FGTS? Ou eliminar o seguro-obrigatório DPVAT? Ou a agência de fomento FINEP? Por que não implodir a própria e nababesca sede da corte? - muito provavelmente um prédio construído no maldito período...
Peter Drucker falou e disse
O papa da Administração - que o jornal O Globo chamou de "filósofo" em obituário - ensinava que "nada que possamos fazer em termos de planejamento vai alterar o rumo dos grandes problemas de gestão do presente; o que vivemos hoje é fruto de decisões que tomamos há uma década...". Esperemos, pois, com paciência e resignação, as constatações que advirão dos próximos dez anos de "jornalismo de ensino fundamental". Com muita probabilidade, nossos cidadãos de 2019 estarão escrevendo cartas aos seus jornais prediletos pedindo o fim do diploma para o exercício do ministério supremo.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
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