O deus-mercado está irado, Dilma, reles mortal, desafia a maldição lançada sobre o país do Carnaval, aproveitando a "janela de oportunidade" que a conjuntura mundial trama desde o quinze de setembro de 2008.
Sibila
Quem tem ouvidos, ouça. O tronitroar do deus-mercado e de seus apaniguados. Rentistas acostumados a couvert e sobremesa na nação de desdentados e famintos. Acostumados a jaguares no paraíso das vans. Acostumados a Buñuel na pátria da novela das duas, das seis, das oito, das dez e da meia-noite.
Roque Santeiro
O "heroi" de Dias Gomes já não o fora. Antes um "macaco" que fugiu no sentido contrário, dando de cara com a infantaria inimiga e tombando para sempre, quer dizer, para nunca, imortalizado em papel, celuloide, CD e DVD - nas boas casas do ramo e nos camelôs da Uruguaiana e da José Paulino.
Vale Tudo
Dar uma banana ao deus-mercado, mesmo que a bordo do jatinho de uma empreiteira do peito, pode ter consequências inomináveis. Pânico. Desorganização. Quebra da autonomia do Banco Central. Risco à independência do COPOM. Ultraje ao sagrado "tripé" meta de inflação, superavit fiscal e câmbio flutuante. Pé de pato, mangalô três vezes!
O Zé morreu. Viva o Zé!
Entronizado aos 44 minutos do segundo tempo, Zé Alencar fez a diferença na chapa de Lula. Amainou o sapo barbudo (na genial descrição de Brizola), que fez o que nunca antes neste país se havia feito, de dar tanta alegria a banqueiros e bancos privados. Contratou um dos seus executivos mais incensados pelo deus-mercado e lá se foram oito anos daquela lenga-lenga do Zé sobre "juros escorchantes".
Surdez
Lula fazia cara de paisagem. E o Banco Central desdizia em suas atas a querência presidencial tagarelada em palanques.
Agora é ela, o poste eleito por "ele" quem fala. Fala pouco. Fala bem. E tem vocação para ler. Ler muito e fazer política. E ao lado de uma de suas raposas mais felpudas. Sem temer.
Pesquisa-focus
Já me esqueci do ano em que passei a ouvir este termo na TV - aberta -, algo que conhecia do meio acadêmico. E não é que o BC fazia sempre o que os 100 entrevistados "projetavam"?
O que o povo não sabe, é que na projeção desses senhores, os juros serão civilizados no Brasil lá pelo ano de 2030, em muito suaves prestações de "25 pontos", como repetem ad nauseam. Completaríamos, assim, 200 anos de relação agiota-enforcado. Quem é o enforcado? Quem é o rico?
The Economist: Brazil takes off
Rico em recursos naturais. Rico em água. Rico em Sol. Rico culturalmente (embora não educadamente). Rico espiritual. E pagamos por isto. Os EUA - ainda recebendo a poupança do mundo em seus títulos para resgate em décadas (somos o quarto credor da terra do Tio Sam, em seus títulos de dívida pública, aquela, que quase caiu em default há um mês) pagam de 0,0 a 0,25 por cento de juros ao ano. No Brasil pagamos 12% (claro, cobrando 180% ao ano dos "virados" no cheque especial e no cartão de crédito). Sempre pergunto em sala de aula: quem é o país rico?
E respondo
Estamos hipotecando - aliás, continuamos a hipotecar, desde D. Pedro I - o futuro do Brasil. Minhas gerações de alunos, de 20 (na graduação) e de 30 (na pós) é que pagarão a conta do Itaquerão, da Cidade da Música e do Trem-Bala. Há dinheiro farto. Ele se cria, escrituralmente, nos pregões do mercado futuro. Mercado este em que nossas novas gerações serão a xepa - sempre tento alertá-los. Mas talvez eles prefiram comprar, a "taxa zero", os novos um-ponto-zero mercantilizados pelo Banco GM, Banco Fiat ou Banco VW. Alguém já disse: o que segura a General Electric é o Banco GE. Vale mais a carta-patente de banca que a turbina propulsora de jatos ou produtora de energia.
Tantos zeros... que me lembro do eterno recruta dos quadrinhos, vítima de assédio moral (e físico), daquele tipo que ainda mata no Brasil e alhures, nas academias militares.
Liberou geral
A Europa se reúne para liberar 15 bilhões de dólares "da Líbia" para distribuir entre os responsáveis por sua destruição... quer dizer, reconstrução.
E o "sindicato" que prometeu "organizar as torcidas organizadas" e que para isso recebeu 6 milhões de reais do meu, do seu, do nosso suado dinheirinho, nada fez e "declara em nota" que o fará "quando achar oportuno".
Que em 2031, um ano após o Brasil chegar ao patamar civilizado dos 2% de juros ao ano, curtindo as delícias do pré-sal e de um Tietê limpo, não sejam as onipresentes imagens de guerra a là videogame, gravadas na Barreira do Inferno, em Itaipu, em Angra e nas duas extremidades do "Bala", no Campo de Marte e no dos Afonsos.
(Link acima adicionado a este post em 30/11/2011).
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