quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Arqui-té tu Brutus?

Não é de hoje que engenheiros extrapolam as suas habilidades e competências partindo para cima de áreas distantes da sua esfera de formação e atuação regulamentada. Escrevi sobre isso em meu último livro, quando trouxe à baila uma jocosa - mas real! - discussão que presenciei acerca de qual seria a profissão de Deus antes da criação. Os engenheiros têm certeza que Ele era, já, um deles. A falta do número do CREA no projeto deve-se a uma falha burocrática de jurisdição - não havia quem abonasse a ficha do Altíssimo.

Primeiro foi a Engenharia de Produção, outro produto do raciocínio criacionista aí de cima. Se algo é produzido, deve-se a um fato do engenho. E desabilite-se as profissões em contrário. Administradores sabem bem a que me refiro.

Esqueçam as velhas Biologia e Botânica - substituíram-nas pela Engenharia Genética e Florestal. Enterrem a Nutrição. Já raiou a Engenharia de Alimentos.

Até a produção artístico-cultural já deixou de existir depois que en-gênio-eiros inventaram a Engenharia Cultural, com matriz... na França!

No Brasil a novidade vem de uma outra sala do mesmo CREA - mais precisamente do gabinete dos arquitetos - uma tal de arquitetura cultural. Haja criatividade!

Se Zanine ou Niemeyer fizeram parte da banca que aprovou esta tese, prometo, adotarei o conceito

A questão do desenvolvimento de legítimas ações culturais - seja como ferramental de comunicação integrada de empresa ou não - ainda é instigante e merece muito mais atenção do quem tido na academia. Prevalecem as visões de mercado, emitidas por eminentes consultores - até bastante criativos, cheios de atitude (e de patrocinadores, também), mas, irremediavelmente presos às suas próprias práticas, seus próprios umbigos conectados à artéria-mór que é a Avenida Paulista.

Oxalá, do Pará ao Paraná, do Acre às Alagoas, surjam outros arquitetos, outros engenheiros e outros estudiosos de cultura, de marketing, de museologia, de artes e de comunicação, interessados em entender e encomendar o encontro da produção artístico-cultural com o mercado (sim, o mercado; de trabalho, de emprego, de estudo, de pesquisa, de fruição artística, de leitores, de cinéfilos, enfim, de públicos), algo que, inevitavelmente remete-nos à disciplina "marketing cultural", gostemos ou não do termo anglo-saxão.

Se há uma Economia da Cultura e se há um mercado cultural, há que nele realizar-se, competentemente, um marketing cultural. E não só pelas empresas patrocinadoras (essas mais interessadas em si mesmas e na promoção de suas marcas), mas, principalmente, pelos artistas, criadores, grupos e gestores culturais.

Saudações mercadológicas!

(Publicado parcialmente no Overmundo - 14/10/2008 - em comentário à matéria/texto acadêmico postado por Vanessa Gabriel).

Nenhum comentário: